28.5.16

Hiroshima, meu Amor

A Rosa de Hiroshima
Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atómica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada
 (Vinícius de Moraes)
Gosto do Obama. Vibrei com a sua eleição e depois com a reeleição para o cargo de presidente dos EUA. De ambas as vezes festejei como se de uma vitória do meu Benfica na Liga dos Campeões se tratasse. Tremo, hoje, só de pensar na possibilidade da América poder eleger uma nova versão, ainda mais hitleriana, de Ronald Reagan, agora com o nome de Trump.
Fiquei desgostoso, no entanto, com a visita de Obama a Hiroshima. Pairou no ar um cheiro, intenso, a hipocrisia, enquanto os canais televisivos relatavam a visita como o grande acontecimento da semana e, quiçá, do ano. Fiquei estarrecido ao ouvir, vezes sem conta, como se esse fosse o essencial da mensagem nesta visita, que os Estados Unidos lamentavam a utilização das bombas atómicas (Hiroxima e Nagasaqui) há 70 anos atrás, mas que não tinham intenção de pedir desculpa.
Os milhões de mortos, feridos, estropiados, as vítimas que ainda hoje continuam a aparecer, como sequelas da utilização das bombas atómicas, a destruição de cidades inteiras, continuam, sete décadas passadas, a não pesar na consciência da “nação americana”.
Tenho pena, por Obama, que isto tenha acontecido. Há formas mais dignas e dignificantes de acabar um mandato presidencial...
Mário Mendes