Natal dos
antigos
Se fossemos falar do Natal de hoje, tínhamos muito que
dizer. Só a discrição do cabaz do Natal, mesmo que não fosse em pormenor
levaria algum tempo. O mesmo se passaria com a ceia... e por aí adiante. Mas o
nosso objectivo é falar sobre o Natal de há cinquenta anos que, por sinal, era
bem diferente daquele que hoje conhecemos.
Procurámos analisar duas classes sociais daquela época, a
média alta e a baixa.
Em Nisa, na classe média alta, ia-se trabalhar durante todo
o dia, na véspera de Natal.
Naquela altura as refeições estavam assim distribuídas:
almoço às 7 h, jantar às 12h e ceia às 19h.
Feijão com couves ou feijão preto constituía o prato
“forte” da ceia da véspera de Natal. Depois, à roda do lume, as mulheres começavam
a fazer a massa para as azevias e filhós, que eram fritas mais tarde. Refira-se
que o recheio das azevias era de grão ou de batata.
Os homens, esses ou ficavam em casa ou dirigiam-se até à
casa de um amigo, para confraternizarem.
À meia-noite, era altura para todas as famílias se
dirigirem à igreja, para assistirem à Missa do Galo.
Depois de terminada a missa, fazia-se mais uma “refeição”.
Uns comiam galo guisado com batatas, outros ficavam-se pelo café com filhós.
Este café era também denominado de “água preta”, pois as baixas posses de
alguns obrigava-os a aproveitar as “borras” ao máximo.
As azevias não se podiam comer, pois “ficavam guardadas”
para o Menino Jesus – era o que se dizia aos mais novos.
Troca de prendas não era hábito, naquele tempo.
No dia de Natal vestia-se o melhor fato, guardado, bem
dobrado, na arca e a que chamavam o “fato novo”. Ia-se à missa e, depois, ao
baile.
Na classe social mais baixa os festejos não diferiam muito.
A única diferença encontrada era na elaboração do recheio das azevias, que não
era de grão nem batata, mas sim de arroz. Coziam o arroz com canela, e depois
juntavam-lhe aç~ucar, até ficar ao gosto.
Ao falarmos destes hábitos e costumes, é relevante referir
que estes diferiam de lugar para lugar.
Apenas a 7
Km de Nisa, em Arez, o Natal passava-se de forma um
pouco diferente.
Nesta localidade, a classe social mais baixa não fazia
azevias, apenas as filhós.
Os rapazes juntavam-se e iam à lenha e a roubar frangos.
Depois, já em casa, faziam o lume e assavam-nos, juntamente com outras coisas.
Era assim a véspera de Natal, que a noite seguinte era de
baile.
Nesta breve análise podemos concluir que o “Natal de
antigamente” era bem diferente do de agora. Não vamos comer feijão mas, talvez,
bacalhau com couve. Não vamos comer galo mas, quem sabe, peru. As prendas,
essas, não vão faltar.
AMG – “Reconquista” – 24 Dez. 1993