Ao
longo de muitos anos, desde o 25 de Abril, principalmente, o rio Tejo tem sido
alvo de muitos discursos e intenções, todos eles virados para as
“potencialidades”, os “recursos endógenos” ou “o desenvolvimento sustentável”.
Foi slogan publicitário e de divulgação do concelho de Nisa e, provavelmente,
de muitos outros. Municípios que dizem adorar o Rio, as belezas naturais, a
pesca, o lazer, o património, os monumentos, a possibilidade de constituir uma
mais valia, fundamental, para o desenvolvimento dos seus territórios e das
gentes que neles habitam.
O
rio - traço de união entre dois povos e países vizinhos – foi sofrendo, durante
décadas, os mais graves e despudorados atentados, perante a indiferença, quase
generalizada de quem tinha e tem, o
dever defendê-lo e de lutar pela sua preservação ambiental, paisagística,
qualidade e constância do caudal das suas águas.
Os reiterados
transvases em território espanhol, ao arrepio das leis e tratados
internacionais e o desrespeito, vergonhoso, pelo povo de um país vizinho e
parceiro comunitário, constituem uma “espinha” cravada no direito
internacional, quase tão grande como a portuguesa Olivença.
Os
atentados só não foram mais longe porque cá e lá (Portugal e Espanha) tem
havido organizações, chamem-lhe ambientalistas, da defesa da terra ou
bairristas – tanto dá – que têm denunciado as constantes agressões que o rio
tem sofrido.
As
câmaras municipais -, mudas, quedas e caladas - têm-se limitado a discursos ou
comunicados de circunstância, remetendo os problemas do rio para os vizinhos do
lado, aparecendo em público quando o eco dos protestos ou o caudal das
agressões ambientais chega à comunicação social e sentem que a sua posição pode
ficar fragilizada.
Tem
sido assim ao longo dos anos e não me parece que, neste aspecto, algo vá mudar.
O
Tejo serve para um belo discurso (Queijo, Tejo, Termas, ou vice-versa), para um
excelente décor ou como pano de fundo para um cenário pré e pós eleitoral.
Depois,
a conversa da treta toma conta do agitar dos dias e das preocupações políticas
das administrações dos concelhos ribeirinhos.
Unissem-se
todos os municípios, portugueses e espanhóis, das duas margens do rio e “outro
galo cantaria”. Assim, cada um para seu lado e defendendo a sua dama - uma
“dama”, por vezes, contrária aos interesses do rio – não chegarão a lado
nenhum.
O
Tejo, o rio da minha aldeia, continuará a degradar-se e a ser cada vez mais, um
esgoto a céu aberto com nome de rio.
Por
nossa culpa!
Mário
Mendes