25.12.14

OPINIÃO: Contributo para uma poética em Fernando Carita…profundo encontro e amor com Deus

Poema 6
O que é a experiência
De longínquos ramos de sol
Sem abeirar-me do êxtase não sei a extensão de um cabo de telefone
Na adormecida noite

Tudo é paz e saudade
Para que possam adormecer os nossos olhos

Numa árvore arrancada ao terreno por uma rajada
De aragem estrondosa neste Natal

Lá fora o vento pia e já nasce uma criança
És o recém -nascido para a tua mãe
Desdobrada em amor

São assim as mães que perdem um filho
Mães da ternura com que acalentam o coração de todos
Mães nascidas renascidas ouvidas por todos nós
E também pelos que já pairam noutra esfera

Mães que só falam de Amor com as mãos erguidas
Para o sacrário que se dilata pela terra inteira

Mãe tua mãe nossa
a quem quero dar um abraço ainda assim
E chamar-lhe “minha filha” 
(in Jornal de Nisa)
Talvez na sua humildade não se considerasse um escritor, ou um poeta, mas como os grandes esta mistura de mística e poesia roça sempre o Absoluto!
“São  assim as mães que perdem um filho….mães de ternura que acalentam o coração de todos…”
Mas os seus versos ultrapassam a lógica e a razão e tornam-se alma e chave da sua vida, numa mística impressionante que lhe é essencial, quase música.
Se a inspiração pode refletir esta dimensão humana, da ordem da alegria, da festa, há planos em que  vai tão fundo que se entrecruzam realidade humana transformada em divina tal a proximidade com que a  deseja e trata…”és o recém nascido para a tua mãe Desdobrada em amor.”, à semelhança de Maria, a Mãe do Senhor.
O Mistério, derradeiro encontro espiritual com Deus tratado com esta ternura pelo poeta.!
Talvez o segredo do Fernando esteja em dizer tão bem o amor divino com esta expressão humana.

João Castanho