Poema 6
O que é a experiência
De longínquos ramos de sol
Sem abeirar-me do êxtase não sei a
extensão de um cabo de telefone
Na adormecida noite
Tudo é paz e saudade
Para que possam adormecer os
nossos olhos
Numa árvore arrancada ao terreno
por uma rajada
De aragem estrondosa neste Natal
Lá fora o vento pia e já nasce uma
criança
És o recém -nascido para a tua mãe
Desdobrada em amor
São assim as mães que perdem um
filho
Mães da ternura com que acalentam
o coração de todos
Mães nascidas renascidas ouvidas
por todos nós
E também pelos que já pairam
noutra esfera
Mães que só falam de Amor com as
mãos erguidas
Para o sacrário que se dilata pela
terra inteira
Mãe tua mãe nossa
a quem quero dar um abraço ainda
assim
E chamar-lhe “minha filha”
(in
Jornal de Nisa)
Talvez na sua humildade não se
considerasse um escritor, ou um poeta, mas como os grandes esta mistura de
mística e poesia roça sempre o Absoluto!
“São assim as mães que perdem um filho….mães de
ternura que acalentam o coração de todos…”
Mas os seus versos ultrapassam a
lógica e a razão e tornam-se alma e
chave da sua vida, numa mística impressionante que lhe é essencial, quase
música.
Se a inspiração pode refletir esta dimensão humana, da ordem
da alegria, da festa, há planos em que
vai tão fundo que se entrecruzam
realidade humana transformada em divina tal a proximidade com que a deseja e trata…”és o recém nascido para a
tua mãe Desdobrada em amor.”, à semelhança de Maria, a Mãe do Senhor.
O Mistério, derradeiro encontro espiritual com
Deus tratado com esta ternura pelo poeta.!
Talvez o segredo do Fernando
esteja em dizer tão bem o amor divino com esta expressão humana.
João Castanho