23.12.14

NATAL em NISA: Descrito na "Monografia" de José Francisco Figueiredo

“Chegada a véspera de Natal, logo ao princípio do serão, começava a festa familiar. Preparava-se a massa para as filhós e azevias e, pouco depois, todo o pessoal feminino estava em actividade, ou tratando da doçaria ou vigiando a preparação da consoada.
Às dez horas, tocava a primeira vez para a Missa do Galo; às onze, a segunda, e à meia-noite em ponto, o vigário acercava-se do altar, depois de, à custa de porfiadas diligências, se fazer calar as inúmeras galinhas (filete de tripa de vaca interposto a dois pedacitos de cana) com que a rapaziada serrazinava e importunava toda a gente durante a época e de cujo abuso nem mesmo na igreja se abstinha.
Terminavam as cerimónias cultuais quando o pároco, de capa de asperges, dava o Menino Jesus a beijar. Então a confusão e o alarido não havia admoestações que os dominassem.
E, pouco depois, a população – ao brasido da lareira ou à mesa da consoada – acabava de celebrar em doce intimidade a santa Festa da Família, cujo último eco se traduzia na garrulice e alegria da pequenada, quando no outro dia, ao saltar da cama, ia recolher as prendas que o Menino Jesus lhe deixava nos sapatinhos.
Sem Pai Natal e sem estrangeirice inclimatada de árvores frias e inexpressivas, o Natal em Nisa – com a gracilidade dos cristianíssimos presépios – foi sempre e é ainda uma festa genuinamente portuguesa.”

Figueiredo, José Francisco Monografia de NisaINCM – CMNisa, 1989