Se em Castelo de Vide e noutros municípios tem havido uma aposta no património, o mesmo não tem acontecido em Nisa. O nosso concelho dispõe de um acervo
patrimonial de grande extensão e valor, muito dele ainda não catalogado, reabilitado,
divulgado, dado a conhecer (nem sequer aos próprios naturais e residentes),
numa palavra, posto a “render” em termos de constituir uma mais valia turística
e de atracção de visitantes.
O que se fez nos últimos anos neste campo – não criticando,
evidentemente, o que se fez de positivo – foi “brincar ao património”.
Dou um exemplo. As placas de sinalização, em madeira, bonitas e
que alguém executou por encomenda, indicando a existência de antas não servem
para coisa nenhuma. Algumas, como a da anta da “Senhora da Redonda” e que José
Dinis Murta, há muito, demonstrou ter a designação errada, remetem, indicam no
sentido de uma propriedade privada. Quem se atrever a passar o portão,
geralmente aberto, pode ter a surpresa de encontrar alguns cães, nada amistosos
e se puder prosseguir o caminho, terá ainda de galgar uma parede, antes de
entrar, finalmente, no terreno, onde se situa a dita anta, popularmente
designada por “Vale Joaninho” ou Vale Janinho”. Era este e não outro o nome a
colocar na placa informativa.
Antes, porém, havia todo um trabalho a fazer: garantir a concordância
dos proprietários dos terrenos no atravessamento das suas propriedades e
estabelecer uma via, um caminho devidamente sinalizado, limpo e livre de obstáculos.
Julgo que estas diligências, estes trabalhos de natureza simples, não custariam
assim tanto à Câmara e valorizariam bastante o património de Alpalhão e do
concelho, numa zona, aliás, com outros motivos de interesse e com potencial
para atrair visitantes e ser foco de estudo para os alunos das nossas escolas.
E que dizer das antas, na tapada dos Saragonheiros? Se a de S.
Gens é monumento nacional, então, a principal dos Saragonheiros, como seria
classificada?
Não como está, certamente, votada ao abandono, a necessitar de
ser limpa e reconstruída (há elementos caídos e que são parte integrante de
toda a estrutura). Tal como na do Vale Janinho, a placa colocada na EN18 remete
para lugar nenhum. Quem se aventurar em seguir adiante esbarra num caminho
cheio de buracos, pó ou lama, ramos de eucalipto e fica sem perceber qual o
rumo a tomar.
E quão fácil era resolver o problema, até por caminho
alternativo. Necessário e indispensável, seria uma conversa com o proprietário,
a definição de objectivos e a consequente delimitação das áreas dignas de
visita. Como fez a edilidade de Castelo de Vide, aliás, no Menir da Meada.
E porque voltamos ao menir, referimos, agora que, há anos foi
descoberto no concelho de Nisa, o Menir do Patalou e a partir desse momento
foram desenvolvidas diversas diligências junto da Câmara Municipal de Nisa
visando a sua erecção (por meios naturais, sem Viagra ou “pau de Cabinda”).
Tem sido uma luta persistente e infrutífera, uma tentativa de
valorizar um monumento concelhio em favor do concelho, a que a Câmara se foi
opondo, talvez por que os proponentes não fossem das “boas graças” dos
detentores da cadeira presidencial da Praça do Pelourinho.
Tudo serviu, ao longo destes anos, como desculpa e entrave para
o levantamento do Menir,
Primeiro eram questões de propriedade, havia muitos herdeiros e
difíceis de contactar, chegou-se ao ponto da argumentação invocar um “herdeiro”
agente da PJ no Funchal, certo é que a Associação Nisa Viva desbloqueou a
situação em dois tempos, os proprietários vieram a Nisa, foram ao local e
ficaram sensibilizados para a questão do Menir do Patalou não colocando
qualquer entrave para o seu levantamento e delimitação das áreas de acesso e
de implantação do monumento.
A Câmara deixou, uma vez mais, “correr o marfim”. Percebia-se, nitidamente,
porquê. Em vez de duas “personas non gratas”, passava a haver uma associação
pouco “gratia” e a repartição dos “louros” da iniciativa. Dé, podia lá sê, uma
pedra tam grande e ê sim vê!
Preconceituosa, lhe chamou, à actual gestão camarária, um dos
seus próprios eleitos.
O preconceito, impediu que o Menir do Patalou fosse erguido no
local onde desde há muitos, muitos anos, dorme um sono reparador e profundo.
Devia estar de pé, como o seu “irmão” da Meada, visto e admirado
pelos nisenses, pelos nacionais e estrangeiros – mais de uma milhar – que demandaram
a região, no início do ano, aquando do Norte Alentejano O Meeting.
Levantar o Menir do Patalou não é, nunca foi, uma questão de
dinheiro. É uma questão de brio, de vontade, de amor pátrio, de afecto e
sensibilidade. De respeito pelos traços da nossa memória e identidade.
E, quando se perdem os afectos, a vida deixa de ter qualquer
sentido.
Espero, dentro de meses, estar a regozijar-me com o levantamento
do Menir do Patalou.
Com sincero orgulho de nisense, sem remoques pelo passado
recente e com a suprema satisfação de verificar, com o saber de experiência feito, que “não
há mal que sempre dure!”.
Mário Mendes