18.9.13

MEMÓRIA: Mataram a "Árvore das Mentiras"

 Nisa, 18 de Setembro de 2008. Foi há cinco anos que alguns nisenses, presentes no local, assistiram, entre incrédulos e indignados, à "machadada final" da emblemática Árvore das Mentiras. O crime de lesa património, o autêntico arboricídio cometido no Jardim Público de Nisa, com o assassinato de diversas árvores frondosas e de elevado valor patrimonial, ornamental e paisagístico ficou, como outros, sem castigo.
O crime principal,  arrasamento e desfiguração do jardim público, começou anos antes e, vá lá tentar perceber-se o estranho desígnio e "sentimento" dos nisenses, valeu uma "maioria absoluta" à principal obreira da desfiguração urbanística e ambiental cometida: a presidente da Câmara Municipal de Nisa.
Dois anos mais tarde (Maio de 2010), outro crime ambiental em plena vila de Nisa: o corte de árvores no Largo do Boqueirão. Ninguém teve culpa. Foi um mal entendido, as árvores foram abatidas sem dó nem piedade, diríamos, com raiva, até, apenas pelo "pecado" de existirem naquele local e contribuírem para humanizar a vida dos residentes e passantes. Não se assumiram nem apuraram responsabilidades.A culpa, como noutros crimes menores e maiores, morreu solteira. Isaltino só há um: está preso e mais nenhum!
Mário Mendes

A morte da “Árvore das Mentiras”
Exmo senhor
Este 18 de Setembro de 2008, algo cinzento, ficará para a história da Vila de Nisa, como o dia em que a emblemática Árvore da Mentira foi cortada. A partir de hoje só através de fotografias e na memória das pessoas poderá ser lembrada. Já tirei algumas fotografias. No momento em que lhe envio esta mensagem, sinto uma enorme e profunda tristeza. Por vezes não há palavras para descrever o que nos vai na alma. O desaparecimento da Árvore da Mentira é um duro golpe para todas as pessoas que amam esta terra. Sinto como se me tivesse falecido um ente querido. Obrigado pela atenção. Com os melhores cumprimentos.
Um nisense

LÁGRIMAS DE CROCODILO(S) - A verdade da mentira
Debaixo daquela árvore, imponente e frondosa, trocaram-se mil promessas de amor, juras de fidelidade, sonhos e projectos para uma vida, muitas vidas.
Talvez, por isso, ficou conhecida como a Árvore da Verdade, na mentira que foram alguns dos episódios que testemunhou.
Por causa dela – da árvore – altiva e verdadeira, fizeram-se projectos de mentira. Destruíram-se recantos e paisagens, criados, de raiz, há mais de 70 anos.
Tudo em nome de um progresso e de uma nova “febre arquitectónica” que sustenta o ego dos políticos e destrói a memória dos sítios, das vilas e das cidades. Até aqui, a globalização urbanística chegou...
A Árvore, nascida há muitas dezenas de anos, tinha, também, de morrer, não de pé, como na pujante interpretação de Palmira Bastos, mas de uma morte triste, violenta, preparada. Diríamos, mesmo, premeditada.
Dilaceraram-lhe as raízes e a árvore, outrora plena de força, definha, agora, em cada dia que passa.
Matam-nos as memórias, as referências de um passado que vivemos, os suportes da ponte entre passado, presente e futuro.
Será que ninguém será, um dia, responsabilizado por tais crimes?
In Portal de Nisa – 18/4/2012

Sou da vila de Nisa
Eu sou da vila de Nisa
Terra do Alto Alentejo
Meus olhos choram de dor
Nos dias que te não vejo

Há anos que cá não vinha
Muito admirado fiquei
Não vi fonte, nem jardim
E de tristeza chorei.

Já vi que não há respeito
Pelo povo desta terra
Querida “Árvore da Mentira”
Olha o que te fizeram!

Mas que fez o meu povo
O que fez ele de tanto mal?
Os jarrões do nosso jardim
Devem estar lá pró Curral!

Triste regressei a casa
E num pranto derradeiro
Tive muitas saudades
Do ti Luís Jardineiro.
Gabriel Giesta
Para o fim guardo uma notícia triste. A Árvore da Mentira, ícone da vila, assim chamada por lá se juntarem pares de namorados, que ali debaixo, na sua sombra, diziam as maiores mentiras de amor uns aos outros, foi cortada. Agora está envernizada, feita unidade de exposição de arte contemporânea. Dar cabo de símbolos já é mau que baste. Terminar com a vida de uma árvore que tinha o bem humorado desplante de ser conhecida pelos maus namoros que abrigava, é crime. Se havia solução para ela que não a morte, tenho um pequeno e construtivo comentário a fazer a quem se lembrou de acabar com ela: vão bardamerda.
Ricardo Braz Frade in http://avoltadeumportugalsemcrise.blogs.sapo.pt