“ Somos uma das associações mais activas do distrito de Portalegre”
Fundada em Maio de 1997, a Inijovem – Associação para Iniciativas para a Juventude de Nisa tem ainda uma curta mas dinâmica vida em prol do associativismo e da dinamização cultural do concelho de Nisa. São 14 anos de actividades, algumas pioneiras, que marcaram de forma muito positiva o quotidiano dos jovens e adultos deste rincão norte-alentejano.
Marco Moura, presidente da colectividade, a passar por um vazio directivo, fez o balanço de dois anos de mandato e reafirmou a importância de uma associação como a Inijovem.
AA – Que balanço faz destes 2 anos à frente da direcção da Inijovem?
“Na reunião da Assembleia Geral, no dia 28 de Novembro, expliquei, detalhadamente, todas as actividades desenvolvidas ao longo de dois anos e que integravam os planos de actividade de 2010 e 2011. Realcei aquelas em que conseguimos maior sucesso, outras que não foram tão bem conseguidas em relação aos objectivos traçados e também as que não conseguimos realizar, fosse por falta de apoios, pelas condições logísticas adversas e pela falta de interesse por parte dos principais destinatários.
De qualquer modo e na linha das direcções anteriores, a Inijovem pôs de pé durante este mandato, um grande conjunto de iniciativas, em primeiro plano destinadas à juventude e que congregaram, no seu todo, milhares de participantes.
Como exemplo, tivemos em 2011 a Rota do Contrabando com um número record de caminheiros, cerca de 500, sendo sem dúvida, a actividade que implica mais meios logísticos e aquela que é mais conhecida em Portugal e além-fronteiras, com um enorme impacto na divulgação do nome de Nisa.
Organizámos, para além deste, 13 percursos pedestres, que envolveram mais de mil participantes e mantivemos uma iniciativa que julgamos pioneira no distrito, o Festival de Cinema, até 2009, designado como de Cinema Alternativo e dedicado ao género fantástico e de terror. Em 2010, mudámos a temática para o Cinema Documental, tivemos a presença dos realizadores Jorge Pelicano e Jorge Murteira, premiado no DocLisboa com “A Casa do Barqueiro”, filme realizado em Amieira do Tejo.
Este ano não foi possível concretizar esta iniciativa, devido à política cultural da Câmara, que restringiu a utilização da sala de cinema, obrigando os utilizadores ao pagamento de aluguer. Ainda assim fizemos algumas apresentações de documentários na nossa sede, sem grande adesão.
Marcámos pontos na pesca desportiva com a realização de 4 convívios e a candidatura ao Concurso Nacional de Pesca Desportiva, a realizar em Junho e que tivemos de cancelar devido ao enorme caudal da Barragem do Maranhão.
Participámos em duas provas de BTT integradas na Taça Regularidade da INATEL, que entretanto acabaram e movimentámos perto de 150 atletas nas provas de ténis de mesa.
Promovemos em 2010, em parceria com as associações AJITA (Tolosa) e AJAL (Alpalhão) a Semana da Juventude, com acções descentralizadas de animação nas 3 localidades. Em 2011 e devido à falta de apoios monetários avançámos para a Semana da Inijovem, recorrendo à “prata da casa”.
Outra actividade de grande importância, pelo significado e pela logística a que obriga, foram as duas Caminhadas a Fátima, com cerca de 100 participantes, sócios e não sócios da colectividade.
Este ano, promovemos o 1º Passeio Fotográfico, na sequência de sugestões dos sócios, com 25 inscrições, mas apenas 10 participantes, devido ao mau tempo.”
Desporto federado
AA - Ao que julgo saber, a Inijovem tem nos últimos anos dedicado especial atenção ao desporto federado. Quais as actividades que têm desenvolvido?
“Em 2010 participámos pela primeira vez nas provas da Associação de Andebol de Portalegre, dando sequência a um projecto que tinha sido feito entre a Câmara, Associação de Andebol e o Nisa e Benfica. Para isso tivemos de pagar à AAP uma dívida de cerca de mil euros e fizemo-lo porque considerámos importante dar sequência que ao trabalho que vinha sendo feito desde 2009 e não defraudar o entusiasmo de muitas crianças e jovens que foram despertas para esta modalidade, sendo campeões regionais em infantis masculinos nas épocas de 2009/2010 e de 2010/2011, classificações que deram acesso à participação no campeonato nacional, prova que está a decorrer e onde a equipa da Inijovem ocupa o 2º lugar da sua série.
Temos 20 jovens a participar nos Infantis, para além das concentrações de minis e bambis em que participamos com mais de dez crianças.
Temos tido também alguns êxitos na pesca desportiva que tem tido secção própria e realizado convívios nesta modalidade. A ambição, no entanto, era competir e filiámo-nos na 1ª Associação de Pesca Desportiva de Rio (Tomar) e a partir daqui foi sempre “a subir”: competimos na 2ª divisão regional e depois na primeira, em 2011 dois atletas atingiram a 3ª divisão nacional e a época acabou em beleza com a equipa da Inijovem a atingir a 2ª divisão nacional.
É uma secção que funciona muito bem, com autonomia e que gere a formação, o treino, as participações nas provas e tudo o que envolve, desde inscrições a exames médicos, etc. A ideia geral é conseguir a concessão de uma área de pesca, objectivo para que aponta a recente alteração aos estatutos.
Participávamos também com entusiasmo nas provas regionais de Ténis de Mesa e sem a competição do Troféu Regularidade da Inatel, instalou-se a desmotivação e temos apenas alguns torneios na nossa sede.”
AA - Tem falado do que foi feito durante estes dois anos, no que respeita a iniciativas, parecendo que tudo corre sobre rodas. É mesmo assim, não há carências de meios financeiros e de infra-estruturas?
“De modo algum. Uma das questões que mais nos preocupa é a questão da sede. Como sabe ocupamos o edifício do antigo teatro e do Clube Nisense. É um edifício muito antigo e com graves problemas sobretudo na cobertura. Há muito que pretendemos resolver a questão jurídica da propriedade, mas não tem sido fácil e isso é um obstáculo para que possamos obter apoios e fazer as obras necessárias.
Se essa questão fosse resolvida teríamos uma melhor distribuição dos espaços e o edifício até poderia albergar outras associações.
No que se refere a transportes, dispomos de uma carrinha de 9 lugares, cedida pela Câmara e que disponibilizamos também a outras associações como os Bombos, Nisa e Benfica, Sociedade Musical, pois achamos que a colaboração entre associações é fundamental, ainda mais quando os apoios monetários começam a escassear e a própria Câmara nos quer fazer pagar taxas de recintos de que antes estávamos isentos.”
A questão financeira
AA - Como e de que vive a Inijovem?
“Vivemos do apoio dos sócios, são quase 600, das verbas que recebemos do IPJ através do Programa de Associativismo Juvenil (PAJ), verbas essas que têm vindo a ser reduzidas drasticamente, não obstante as inúmeras iniciativas que fazemos anualmente, a ponto de poder dizer, sem receio de ser desmentido, que a Inijovem tem sido uma das mais, senão mesmo a mais activa, associação do distrito de Portalegre.
Em 2011, movimentámos até final de Outubro, 57.812 euros e temos em conta 3.632 euros. Em termos financeiros, temos em falta e já cabimentados 5 mil euros de subsídio da Câmara no âmbito do projecto de dinamização do Andebol, do qual somos a entidade gestora, e mais 5 mil euros como verba atribuída para outras actividade, algumas das quais em parceria com a própria Câmara.
No que respeita a apoios devo dizer que sou contra a subsídio-dependência e as associações devem caminhar para serem auto-sustentáveis. No entanto, a falta de apoios tem-se feito sentir de forma dramática e lembro que no 1º ano em que nos candidatámos ao PAJ recebemos cerca de mil contos. Em 2011 foram pouco mais de 2 mil euros.
Para nós o dinheiro não é o mais importante. O que nos preocupa são as dificuldades e os entraves que estão a ser colocados na cedência de equipamentos, transportes e instalações por parte da autarquia.
A cultura, o recreio e o desporto, fazem parte da melhoria das condições de vida dos habitantes do concelho e é uma das principais atribuições da Câmara, pelo que não se compreende esta política. Muito menos quando pedimos apoio em transportes com alguma antecedência, como foi o caso da caminhada a Fátima e a resposta chega a dois dias do início da caminhada, sem termos tempo para refazer o que quer que seja, inclusive, pedirmos às pessoas uma contribuição para o pagamento do transporte.
É de uma grande irresponsabilidade, pois há custos e despesas programadas e não é em cima do acontecimento que as mesmas podem ser alteradas.
A continuar esta política “cultural”, vai mexer muito com a vida associativa do concelho, provocar estrangulamentos e muitas actividades vão desaparecer.”
AA - Esta questão terá contribuído para o facto de na recente Assembleia Geral não ter aparecido qualquer lista a concorrer aos Corpos Sociais da Inijovem?
“A não apresentação de qualquer lista e este vazio directivo não me surpreende muito. Há dois anos aconteceu a mesma situação e estas situações vão-se arrastando porque os sócios são pouco activos e participativos na vida associativa. É um fenómeno que não é novo e que vai acentuar-se, ainda mais sabendo-se que são cada vez menos os apoios.
Entristece-me, ver uma situação destas, atendendo ao historial da Inijovem, à dimensão e dinamização da nossa actividade que em 14 anos mexeu e de que maneira, com o concelho.
Acredito, no entanto, que na próxima Assembleia-Geral, marcada para 29 de Dezembro apareçam as pessoas com vontade de continuar este projecto. Para já e no âmbito do Plano de Actividades para o próximo ano, avançámos para a realização da Rota do Contrabando, no último fim-de-semana de Março.”
A cara da notícia
Marco Moura, 34 anos, animador cultural, desempregado, está ligado à Associação para Iniciativas para a Juventude de Nisa – Inijovem-, desde a sua fundação e tem pertencido a diversos órgão sociais da colectividade, de vogal a secretário-geral, os dois últimos anos como presidente da direcção.
Na conversa com o repórter do “Alto Alentejo” vincou, com um entusiasmo inusitado, a importância da associação a que preside, passando em relance, como num filme, o percurso brilhante da Inijovem e a sua contribuição para o desenvolvimento social, cultural e desportivo do concelho de Nisa.
Uma contribuição que poderá estar em risco se até final do ano o futuro próximo da colectividade não ficar assegurado.
Têm a palavra os sócios da Inijovem!
Mário Mendes in "Alto Alentejo" - 7/12/2011