Poema de Natal
A minha sede entrou com as mãos estendidas
Nesta Vila da província
Onde há esquinas e buracos e flores
E largos e Anabelas
E um liceu com bibe de menino
Pisei o chão da Avenida
Com luzes nos olhos
E o meu gosto de andar
A pintar o oxigénio com o pincel de Professor.
Chegou um Natal e outro e outro
E eu via postais na minha aldeia
Cada um trazia uma parcela de amor
Trazia sóis
E bocados de Lua cheia
Rasgos
Fogo-fátuo e uma boneca de azul
Cada um trazia um Menino brincando na chaminé.
(Uma vez lembrei-me do João Cardoso
Seus pés nasceram de lado
Suas botas de pequeno não as teve
Nem uma camioneta para brincar no largo
No largo da Velada
Onde a minha casa aponta o céu
Na labareda do tempo
Na mistura da planície.
Uma vez lembrei-me do João Cardoso
Nunca teve prendas nos sapatos...
Mas teve sorrisos de Jesus).
Natal
Canções de Amor na aguarela viva
Luz do alto, Luz do corpo, Luz da Fé, Luz
E a minha sede de mãos estendidas
Nesta vila da província
Onde encontrei Jesus.
Joaquim Semedo Toco – in Sinfonia das Flores em Azul