16.4.24

OPINIÃO: Normalizar o que não é normal

Como resultado da escolha dos eleitores, temos um novo governo e um novo programa. Não costumo comentar a idoneidade das pessoas, mas sim as políticas que defendem. Por exemplo o novo Ministro da Educação, Fernando Alexandre já defendeu cortes definitivos no 14.º mês dos funcionários públicos; eu nunca votaria numa pessoa assim, mas enfim, esses eleitores lá sabem… certo é, que este novo elenco governativo revela a tendência para políticas que promovem o setor privado em detrimento do público.
Com uma base de apoio frágil, o governo da AD (sem PPM), vai ter tarefa difícil e precisa mesmo de conseguir consensos. Montenegro já ensaiou a hipótese de colocar o ónus no PS que, entretanto, salvou a AD no caso da eleição do Presidente da Assembleia da República, com o Chega a transformar o hemiciclo num festival de piruetas – um autêntico circo...
Para dar continuidade a uma entrada pífia, a AD (sem PPM) dá um tiro no pé ao nomear Maria Clara Figueiredo e Margarida Blasco, violando o próprio programa eleitoral que visa impedir este tipo de nomeações, o que não foi o caso e começamos com o ditado popular, “bem prega Frei Tomás”. Também no governo não faltam casos a braços com a justiça e até apetece dizer, volta Costa que estás perdoado.
A primeira medida do governo, mostra bem o sentido de estado conservador bacoco que nos transportou rapidamente, da modernidade à boçalidade com a importância que deram à mudança do logótipo. O novo logótipo criado em 2023 pelo designer Eduardo Aires, reconhecido internacionalmente, não substitui a bandeira nacional e visava apenas uma melhor aplicação nos sistemas digitais. No lugar do progresso, com a direita já é costume assistirmos a retrocessos. Foi o primeiro favor à bafienta extrema-direita, ignorando o que países desenvolvidos da Europa fizeram a este respeito. Já agora, porque não usam figuras a chicotear escravos? Isso, também faz parte da nossa história como país com 400 anos no comércio de escravos!
E por falar de escravos, esses, continuarão a ser muitos trabalhadores, vítimas de um código laboral que não os defende e que este governo vai desproteger ainda mais quem trabalha. As medidas apresentadas pelo governo garantem benefícios para os grandes grupos económico-financeiros, enquanto acrescenta mais instabilidade para quem trabalha. E quanto às promessas, não deixam de ser promessas com muitas vozes a recuarem e a apontarem dificuldades. Vamos então esperar pelas negociações e pelo prometido diálogo do governo.
Pedro Nuno Santos, não fecha a porta a acordos que visem a melhoria da vida das pessoas, mas já se demarcou de ser muleta do governo. Ventura com uma crise de ciúmes e com tiques birrentos, diz que vai ser oposição perante o “não é não” da AD sem Gonçalo da Câmara Pereira, que até alinhava com o Chega…
O Chega é o campeão das contradições, não quer ser do sistema, mas quis coligar com a AD no governo e ao mesmo tempo ser oposição da AD… quem é que percebe isto? Fazer parte do governo AD, não seria fazer parte do sistema? O PSD na Madeira é corrupto segundo Ventura e no Continente, é outro partido? Agora, nos Açores já há novamente conversações…. Enfim, isto não podia ser mais paradoxal.
Numa recente sondagem da Aximage e as sondagens valem o que valem e não estiveram distantes dos resultados destas legislativas, 70% dos inquiridos não acreditam que o governo AD chegue ao fim da legislatura. Adianta ainda, que 60% consideram que a participação do Chega numa maioria de direita é negativa. Uma grande maioria acredita que vamos ter um período de instabilidade.
Se na bancada do Chega o que não faltam são deputados a braços com a justiça, quanto ao novo elenco governativo, não deixa de ser curioso ver o CDS dos submarinos e dos veículos Pandur a liderar o Ministério da Defesa. Submarinos que custaram mais de mil milhões de euros e cuja manutenção acordada com Aguiar Branco, recém-eleito presidente da A.R. foi de mais cinco milhões de euros. Entretanto, nas infraestruturas, temos as cartas de conforto das trafulhices da TAP. As garantias deste governo são políticas conservadoras e de privatização e isto é tudo o que o Chega defende.
Foram as escolhas dos eleitores que preferiram apostar numa mudança, ao invés de ficarem sujeitos a quem escolha por eles, como defendia o filósofo grego, Platão. Só podemos dizer que muitas pessoas andam tensas e refugiam-se na panóplia de ofertas fúteis e ficam pouco atentas ao que se passa no mundo e até nas suas vidas. Estes são os perigos que levam a normalizar o que não é normal.

* Paulo Cardoso - 12.04.2024) - Programa "Desabafos" / Rádio Portalegre