Graças ao ritmo acelerado de vacinação, o país entra amanhã numa nova fase de alívio de restrições, antes da data inicialmente prevista. Uma das novidades, contudo, fica adiada para 1 de setembro: o atendimento sem marcação prévia nos serviços públicos.
Mostrando uma inexplicável incapacidade de reação e de adaptação ao ritmo de reabertura, o Governo confirma, neste adiamento, os sinais que vamos vendo em crónicos atrasos em atos essenciais como a emissão de documentos.
Apesar de mais uma semana e meia dada para que os serviços se preparem, os sindicatos representativos dos funcionários públicos reagiram alertando para o risco de filas e assegurando não existirem recursos humanos para dar resposta ao regresso do atendimento sem marcação. E é aqui que entram as razões para questionar a gestão que o Estado tem feito dos seus recursos.
Nos dois primeiros trimestres do ano o emprego público cresceu a um ritmo que só encontra paralelo em 2011. Naturalmente o setor da Saúde foi o que mais contribuiu para este crescimento, seguindo-se a área da Educação. Dificilmente se encontrarão portugueses que questionem esse investimento, porque se algo aprendemos com a pandemia foi a importância de termos um SNS sólido e uma escola pública capaz de responder a cenários de incerteza e de crise.Algo está errado, contudo, quando as contratações aumentam mas continuam a ser evidentes os sinais de debilidade na resposta e na valorização dos profissionais. Mesmo na Saúde, o que vemos é que continuam a faltar médicos em diversas especialidades, que muitos enfermeiros se sentiram enganados nos prémios e condições de contratação, e que a precariedade continua a ser uma doença difícil de combater. Pelos vistos, idêntico cenário atinge lojas do cidadão, repartições de Finanças e espaços similares. É incompreensível que o Governo contrate mais, mas não consiga ter melhores serviços. Que façam tão simplesmente o que o nome promete: serviço público.
Inês Cardoso - Jornal de Notícias - 22/8/2021