A Menina Rosa é madrugadora. Muito
antes das suas costureiras pegarem ao serviço, já ela percorre as
várias dependências do seu primeiro andar, a preparar o começo de
vida daquele dia.
Um pouco antes da oito da manhã,
quinze mulheres das mais variadas idades e estados vão chegando,
espaçadas.
Na cozinha, a Menina Rosa tesoura a
ganga em pedaços, sobre o tampo de um mesa. À sua volta, aguardando
o talhe de aviamentos dos “macacos”, as costureiras falam de tudo
e de todos.
No compartimento contíguo, a casa de
jantar da Mestra, os móveis envernizados estão sobrecarregados de
utensílios e adornos caseiros: estatuetas, vasos com flores, pratas,
vinhos finos, loiça vistosa, etc. Uma telefonia, um relógio de
parede e uma fruteira a transbordar de frutos dão actualidade ao
ambiente. Na parede, três retratos familiares sorriem. As portas de
madeira da varanda, semicerradas, escurecem a dependência.
Os olhos das operárias cobiçam todo
aquele recheio. Uma a uma recebem os aviamentos e sobem para o sótão.
Sob telhas e barrotes toscos, dez máquinas de costura estão
reunidas a meio da mansarda.
Romeu Correia