Foram quatro dias
vividos com grande intensidade em terras do norte-alentejano, por uma embaixada
de trinta desportistas que viajou desde Joué les Tours, no centro de França,
para virem “abraçar” Nisa e reforçar os laços de amizade existente entre as
duas localidades.
Durante quatro dias,
trinta desportistas, jogadores e acompanhantes da equipa de futebol de
veteranos da União Desportiva Portugueses de Joué les Tours (dito, assim, em
português, soa um pouco melhor) visitaram Nisa, abraçaram familiares e amigos,
fizeram novos amigos e reforçaram os laços de amizade, através do desporto, que
unem esta duas terras de Portugal e de França.
A viagem começou a
tomar forma quando Jean Pierre Laret, um nisense naturalizado francês, chegou à
direcção do núcleo de veteranos da Unión Sportive Portugais de Joué les Tours,
um clube fundado em 1981 e ao qual alguns nisenses têm dado um contributo
fundamental e inestimável.
Se bem o pensou melhor
o fez. Expôs a ideia aos seus companheiros, que rejubilaram de entusiasmo com a
possibilidade de uma visita a Portugal e desde logo meteram mãos à obra, o que,
em França, significa, fazer o planeamento da viagem (datas, custos, patrocínios
e, sobretudo, financiamento), uma deslocação a ser feita a expensas próprias.
Depois o sonho começou a ganhar forma. Actividades, rifas, iniciativas
diversas, os fundos foram aparecendo e a ida a Portugal começou a desenhar-se
no horizonte.
Em causa estava não só
uma visita de amizade e de carácter desportivo, mas também um agradecimento e
homenagem a um atleta que vestiu e honrou as cores do clube mais português de
França.
Chegaram a Nisa na
quinta-feira, dia 8 e após o almoço rumaram ao cemitério.
Foram momentos
comoventes e de grande emoção, os vividos junto à campa de António Maria Polido
Cabim, o companheiro e atleta falecido em 2000, ainda jovem na plenitude dos
seus 40 anos. Após depositarem uma coroa de flores e a homenagem em silêncio e
recolhimento que se seguiu, a comitiva rumou até ao cabecinho da Senhora da
Graça.
Formado por
portugueses, franceses e luso-descendentes, o grupo ficou maravilhado com a
paisagem que do alto do monte se desfruta. O padre Nuno Folgado, presente no
local, foi convidado e de imediato aceitou, pronunciar algumas palavras de boas
vindas, para além de ter feito uma resenha da história local, detendo-se nas
origens de Nisa e explicando a importância da Senhora da Graça para os
nisenses.
De regresso a Nisa, os
momentos seguintes foram de descontracção face às emoções sentidas até ali. Na
Devesa, o Café Manso foi o cenário escolhido para refazer o estômago e provar
algumas das iguarias tradicionais. Rodaram os pastéis de bacalhau (excelentes,
por sinal), provaram-se e apreciaram-se os enchidos da região, e o tinto
alentejano não deixou os seus créditos por paladares alheios.
No dia seguinte, o
grupo vindo de Joué les Tours fez uma incursão pelo Alentejo. Elvas, Borba,
Estremoz, Vila Viçosa foram algumas das localidades visitadas antes de
regressarem a Nisa e prepararem, à noite, o estágio para o importante desafio a
ter lugar no dia seguinte.
E foi no sábado, dia
10, que teve lugar o tão aguardado encontro. No campo D. Maria Gabriela Vieira,
já sem o sobreiro que alguns conheceram antes de partirem à procura do sonho e
da esperança para terras gaulesas, perante muitos espectadores, as três
equipas, dispuseram-se para a realização de uma jornada desportiva que era
mais, muito mais do que um simples jogo de futebol e representava o abraço,
franco e fraternal, entre aqueles que um dia partiram e os que ficaram.
Representava, também, a
demonstração clara de que o “espírito europeu” se firma e fundamenta na relação
pacífica e no respeito entre os povos que integram esta mesma Europa. E se
sobre o jogo pouco há a dizer, dada a correcção e o ambiente de amizade com que
decorreu, apraz registar que, na equipa visitante, além de alguns nisenses,
havia portugueses de outras regiões do país, descendentes de portugueses, de
sérvios e marroquinos, uns e outros, todos, encantados com a recepção de que
foram alvos em Nisa.
Sorriu a vitória aos
veteranos do Nisa e Benfica, num jogo bem disputado e com fases de excelente
futebol, que serviu para “abrir as hostilidades” para a terceira parte do jogo,
esta realizada no amplo salão de festas do clube anfitrião.
Foi o culminar de uma
jornada desportiva intensamente vivida e partilhada. À mesa, os atletas
veteranos, de um e outro país, foram todos portugueses naquilo que o nosso povo
tem de melhor: o saber da convivência feito, a troca de saudações, o bem
receber e partilhar emoções.
Tão bela jornada só
merece ser continuada, agora em terras da Touraine. É o que esperam os
portugueses, franceses, cidadãos da Europa, da USP de Joué les Tours.
A primeira parte está
ganha. É tempo de preparar a segunda...
Mário Mendes
“Estou
sensibilizado com a homenagem ao meu tio”
- Rafael Cabim Pinto
Visivelmente
emocionado, Rafael José Cabim Pinto, um jovem nisense a residir em França, não
escondeu a sua satisfação e quis deixar algumas palavras de agradecimento.
“Estou muito
sensibilizado com a homenagem que fizeram ao meu tio. Não tenho palavras para
agradecer ao clube USP de Joué, principalmente ao Jean Pierre, a todos os que
aqui vieram e também aos antigos companheiros do meu tio. Acho que o que ele
fez pelo clube e a amizade que tinha com todos, foi reconhecida. Muito
obrigado!”
“ Esta homenagem significa muito”
- Jean Pierre Laret
Jean Pierre Laret,
natural de Nisa, há mais de 40 anos em França, foi o principal dinamizador
desta visita a Portugal.
“ Fui jogador do clube
durante várias épocas e quando o ano passado, em Julho, decidi pegar nos
Veteranos, a minha primeira ideia foi logo virmos a Nisa este ano.
Para isso avançámos com
várias iniciativas, tivemos centenas de contactos, a minha mulher que é
transmontana, colaborou a cozinhar, fazendo comida todos os 15 dias, para 30
pessoas (quando jogamos, em “casa”) e fomos conseguindo arranjar receitas.
Falámos com o Bento Semedo dos Veteranos de Nisa e a visita foi concretizada.
É uma grande alegria,
estarmos em Portugal e na nossa terra. Tivemos uma grande recepção, o pessoal
está muito contente e destas 30 pessoas, apenas 12 conheciam Nisa.
A homenagem significou
muito para mim e para todos, porque o Cabim era um rapaz da nossa terra, muito
estimado. Foi jogador do clube e na nossa sede temos lá uma sala com o nome
dele, onde estão as taças, troféus, fotos, recordações, a história do clube e
também onde jantamos.”
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