17.7.15

NISA: Sabe onde mora? (1)

LARGO HELIODORO SALGADO
Iniciamos o nosso passeio pela toponímia de Nisa pelo Largo do Boqueirão, ou mais propriamente designado Largo Heliodoro Salgado. Quem foi este Heliodoro (se tem nascido em Nisa seria chamado de Lidó) e o que fez para merecer o nome num dos largos da nossa terra?
O antigo Largo do Boqueirão, era um dos principais largos da vila, logo a seguir, em importância, ao Rossio. Ali teve a sua primeira sede, em 1916, a Associação dos Bombeiros Voluntários de Nisa. Ali se implantou, na década de 40, a primeira bomba de abastecimento de combustível, a Central de Transportes que fazia a ligação com os Caminhos de Ferro e, mais tarde, a Repartição de Finanças. No largo funcionou também os serviços de assistência anti-tuberculosa, doença que grassou de forma quase impiedosa no concelho até ao final dos anos 60, num pequeno edifício encostado à Igreja do Espírito Santo, actualmente afecto ao Município.
O Largo Heliodoro Salgado é um dos espaços aprazíveis de Nisa, dispondo de um pequeno jardim e oferecendo boas condições como zona comercial, nomeadamente, para a restauração. As placas toponímicas que identificam o largo carecem -  como muitas outras na vila -  de informação mais detalhada e precisa sobre os nomes que ostentam. No caso em apreço, bastaria inscrever por baixo do nome “Escritor e Jornalista/1864 – 1908”.
Heliodoro Salgado

Heliodoro Salgado nasceu em São Martinho de Bougado, concelho de Santo Tirso, em 8 de Julho de 1891, era filho do escritor e jornalista portuense Eduardo Augusto Salgado.
Começou a sua carreira profissional como professor primário para rapidamente a trocar pela de jornalista, colaborando em vários títulos. Começou por escrever no jornal socialista portuense O Protesto e também n’ O Operário, já que nessa altura estava inscrito no Partido dos Operários Socialistas.
No final da década de oitenta do século XIX Heliodoro começou a aproximar-se cada vez mais das ideias republicanas, tendo vindo a aderir ao Partido Republicano Português em data próxima do Ultimato inglês de 1890. Daqui decorreu a sua colaboração em quase todos os jornais republicanos como “O Século”, o ter dirigido a revista “A Portuguesa” bem como a coleção «Biblioteca do Livre Pensamento» e, ser um orador apreciado nos comícios organizados pelos republicanos. Refira-se que no jornal “O Mundo” usou os pseudónimos de Ivanhoé e Ismael.
A partir de 1897 instalou-se em Lisboa ganhando proventos a dar aulas de Português, Francês, Literatura, História e Filosofia em regime livre e, logo no ano seguinte, já integrava a Comissão Municipal Republicana de Lisboa. Presidiu também ao Centro Republicano Pátria e à Assembleia-geral da Associação Propagadora do Registo Civil, para além de exercer funções como secretário da associação Vintém das Escolas e sendo ainda redator da publicação homónima. No final da sua breve vida de 45 anos também desempenhou as funções de arquivista do Directório do Partido Republicano.
Heliodoro Salgado escolheu o nome de Lutero para ser iniciado na Loja lisboeta Obreiros do Trabalho, em 1890. Mais tarde também pertenceu às lojas União Latina do Porto (1893) e, Elias Garcia, de Lisboa (1897) e foi um dos participantes na Conferência Nacional Maçónica da Figueira da Foz em Setembro de 1906.
O seu enterro, a 14 de outubro de 1906, foi acompanhado por mais de 50 mil pessoas de todas as classes sociais e, o seu nome ficou lembrado na toponímia de múltiplas cidades e vilas portuguesas como Almada, Amadora, Barreiro, Lourinhã, Nisa, Portimão, Póvoa de Varzim, Sintra ou Trofa.
Foto de Heliodoro Salgado publicada na revista O Occidente, 20.10. 1906