LARGO
HELIODORO SALGADO
Iniciamos
o nosso passeio pela toponímia de Nisa pelo Largo do Boqueirão, ou mais
propriamente designado Largo Heliodoro Salgado. Quem foi este Heliodoro (se tem
nascido em Nisa seria chamado de Lidó) e o que fez para merecer o nome num dos
largos da nossa terra?
O
antigo Largo do Boqueirão, era um dos principais largos da vila, logo a seguir,
em importância, ao Rossio. Ali teve a sua primeira sede, em 1916, a Associação dos
Bombeiros Voluntários de Nisa. Ali se implantou, na década de 40, a primeira bomba de
abastecimento de combustível, a Central de Transportes que fazia a ligação com
os Caminhos de Ferro e, mais tarde, a Repartição de Finanças. No largo
funcionou também os serviços de assistência anti-tuberculosa, doença que
grassou de forma quase impiedosa no concelho até ao final dos anos 60, num
pequeno edifício encostado à Igreja do Espírito Santo, actualmente afecto ao
Município.
O
Largo Heliodoro Salgado é um dos espaços aprazíveis de Nisa, dispondo de um pequeno
jardim e oferecendo boas condições como zona comercial, nomeadamente, para a
restauração. As placas toponímicas que identificam o largo carecem - como muitas outras na vila - de informação mais detalhada e precisa sobre os
nomes que ostentam. No caso em apreço, bastaria inscrever por baixo do nome “Escritor
e Jornalista/1864 – 1908” .
Heliodoro Salgado
Heliodoro
Salgado nasceu em São
Martinho de Bougado, concelho de Santo Tirso, em 8 de Julho
de 1891, era filho do escritor e jornalista portuense Eduardo Augusto Salgado.
Começou
a sua carreira profissional como professor primário para rapidamente a trocar
pela de jornalista, colaborando em vários títulos. Começou por escrever no
jornal socialista portuense O Protesto e também n’ O Operário, já que nessa
altura estava inscrito no Partido dos Operários Socialistas.
No
final da década de oitenta do século XIX Heliodoro começou a aproximar-se cada
vez mais das ideias republicanas, tendo vindo a aderir ao Partido Republicano
Português em data próxima do Ultimato inglês de 1890. Daqui decorreu a sua
colaboração em quase todos os jornais republicanos como “O Século”, o ter
dirigido a revista “A Portuguesa” bem como a coleção «Biblioteca do Livre
Pensamento» e, ser um orador apreciado nos comícios organizados pelos
republicanos. Refira-se que no jornal “O Mundo” usou os pseudónimos de Ivanhoé
e Ismael.
A
partir de 1897 instalou-se em Lisboa ganhando proventos a dar aulas de
Português, Francês, Literatura, História e Filosofia em regime livre e, logo no
ano seguinte, já integrava a Comissão Municipal Republicana de Lisboa. Presidiu
também ao Centro Republicano Pátria e à Assembleia-geral da Associação
Propagadora do Registo Civil, para além de exercer funções como secretário da
associação Vintém das Escolas e sendo ainda redator da publicação homónima. No
final da sua breve vida de 45 anos também desempenhou as funções de arquivista
do Directório do Partido Republicano.
Heliodoro
Salgado escolheu o nome de Lutero para ser iniciado na Loja lisboeta Obreiros
do Trabalho, em 1890. Mais tarde também pertenceu às lojas União Latina do
Porto (1893) e, Elias Garcia, de Lisboa (1897) e foi um dos participantes na
Conferência Nacional Maçónica da Figueira da Foz em Setembro de 1906.
O
seu enterro, a 14 de outubro de 1906, foi acompanhado por mais de 50 mil
pessoas de todas as classes sociais e, o seu nome ficou lembrado na toponímia
de múltiplas cidades e vilas portuguesas como Almada, Amadora, Barreiro,
Lourinhã, Nisa, Portimão, Póvoa de Varzim, Sintra ou Trofa.