Em Nisa, morreu um poeta. Morreu o Camões, poeta das
palavras, dos mil sorrisos, dos gestos simples e afáveis. Morreu um homem
incomum, portador de uma alma generosa e uma dimensão humana cada vez mais
rara, nos dias que correm.
O Zé Camões veio para Nisa com os pais e irmãos aquando da
construção da Barragem do Fratel no início da década de 70 e aqui conheceu a
mulher com que viria a casar e a constituir família.
Figura popular pelo seu trato fácil e permanente bom humor,
exibia a boa disposição como traço fundamental do seu carácter, sobrepondo, por
vezes, esse estado de espírito às tristezas e amarguras de que a vida é,
também, feita.
Era essa a imagem que mais o vincava. Com o Zé Camões por
perto ninguém estava triste. Ele tinha o condão, apenas com uma palavra ou uma
tirada alegre e brejeira, de quebrar o gelo, de demolir os muros da indiferença
e da desconfiança que estivessem à sua volta. Mesmo quando a palavra dita,
pudesse parecer inconveniente ou fora da razão.
José António Costa Lopes, o Camões, partiu do nosso
convívio. Deixou-nos de uma forma abrupta e inesperada, depois do fatal
acidente que sofreu no final da passada sexta-feira na sua residência. Acidente
de trabalho, de um poeta que não sabia estar parado. Que fez da sua vida de
quase 60 anos, um poema de trabalho, amor e luta.
Foi sepultado há instantes e recordo, parece que o estou a
ver, há anos, na sua oficina, rodeado da família e amigos, feliz e radiante,
após ter concretizado um dos maiores sonhos da sua vida: a inauguração de uma
unidade industrial de serralharia e a formação de uma empresa de cariz familiar,
empreendimento a que o Zé Camões se entregou de corpo e alma, granjeando a
satisfação de clientes e muitas amizades.
Não se estranhou, por isso, que a Praça do Município fosse
pequena para albergar tantas e tantas centenas de amigos de Nisa, do concelho e
de outras regiões.
Um mar de gente que o acompanhou à sua derradeira morada e
lhe tributou uma sentida homenagem e despedida.
Em Nisa morreu um “poeta”. Um poeta da vida, da amizade, da
fraternidade. O mundo seria muito melhor (quantas vezes?) se todos fôssemos
assim.
Recordemo-lo como exemplo a seguir!
Repousa em paz, Zé Camões!
Mário Mendes