22.7.15

NISA: A morte de um poeta

 Em Nisa, morreu um poeta. Morreu o Camões, poeta das palavras, dos mil sorrisos, dos gestos simples e afáveis. Morreu um homem incomum, portador de uma alma generosa e uma dimensão humana cada vez mais rara, nos dias que correm.
O Zé Camões veio para Nisa com os pais e irmãos aquando da construção da Barragem do Fratel no início da década de 70 e aqui conheceu a mulher com que viria a casar e a constituir família.
Figura popular pelo seu trato fácil e permanente bom humor, exibia a boa disposição como traço fundamental do seu carácter, sobrepondo, por vezes, esse estado de espírito às tristezas e amarguras de que a vida é, também, feita.
Era essa a imagem que mais o vincava. Com o Zé Camões por perto ninguém estava triste. Ele tinha o condão, apenas com uma palavra ou uma tirada alegre e brejeira, de quebrar o gelo, de demolir os muros da indiferença e da desconfiança que estivessem à sua volta. Mesmo quando a palavra dita, pudesse parecer inconveniente ou fora da razão.
José António Costa Lopes, o Camões, partiu do nosso convívio. Deixou-nos de uma forma abrupta e inesperada, depois do fatal acidente que sofreu no final da passada sexta-feira na sua residência. Acidente de trabalho, de um poeta que não sabia estar parado. Que fez da sua vida de quase 60 anos, um poema de trabalho, amor e luta.
Foi sepultado há instantes e recordo, parece que o estou a ver, há anos, na sua oficina, rodeado da família e amigos, feliz e radiante, após ter concretizado um dos maiores sonhos da sua vida: a inauguração de uma unidade industrial de serralharia e a formação de uma empresa de cariz familiar, empreendimento a que o Zé Camões se entregou de corpo e alma, granjeando a satisfação de clientes e muitas amizades.
Não se estranhou, por isso, que a Praça do Município fosse pequena para albergar tantas e tantas centenas de amigos de Nisa, do concelho e de outras regiões.
Um mar de gente que o acompanhou à sua derradeira morada e lhe tributou uma sentida homenagem e despedida.
Em Nisa morreu um “poeta”. Um poeta da vida, da amizade, da fraternidade. O mundo seria muito melhor (quantas vezes?) se todos fôssemos assim.
Recordemo-lo como exemplo a seguir!
Repousa em paz, Zé Camões!
Mário Mendes