Os antigos professores primários, hoje ditos do 1.º ciclo
Relembro
o meu percurso escolar, nomeadamente a minha instrução primária, e nesse âmbito
registo um conjunto de professores naturais da minha terra à frente dos quais
colocaria António Paralta de Figueiredo, meu excelso professor, e filho dessa figura marcante de homem, de nisense e de professor
que foi sem sombra de qualquer dúvida seu pai
José Francisco Figueiredo.
Igualmente
num plano elevadíssimo de dedicação ao ensino coloco Georgete Morais , mãe do
nosso ilustre conterrâneo Arménio
Morais, médico que com tantos outros, saudosa gente, com quem partilhámos a
mesma sala de aula….José Maria Moura, cuja bondade e exemplo mais uma vez aqui
se regista quer enquanto professor quer através da sua brilhante carreira de
desportista, João Sena Aldeia, João Louro e tantos outros partilhámos a mesma
sala de aula e o mesmo professor, nós na primeira, e depois segunda ( o aqui subscritor do presente texto , e
outros como António Maria Pereira Bicho (meu dilecto amigo,
saudoso companheiro de carteira já
falecido), Armando Pimentel Basso,
Carlos Manuel Telo Gonçalves, João Faria, Rui de Sousa e tantos outros amigos cuja memória
de momento não ocorre.
Sou
ainda afilhado de dois professores primários.
Adentrei
a vida profissional em Portalegre aos
dezoito anos onde pude conviver com
professores e candidatos a professores.
Foi
aliás criada nessa altura a Escola do Magistério Primário em Portalegre.
Por
toda a vida me ficou o entusiasmo renovado com que essa plêiade de educadores
nos esperava em Outubro, eles próprios a quererem demonstrar que o acumular de
experiência os transformaria continuadamente em melhores professores... Erros
sim, mas para não repetir, que a semente a
lançar produziria melhores árvores, com frutos de melhor qualidade.
Via-se-lhes
nos rostos em cada ano esse renovado entusiasmo, esse espírito novo, nunca o
enfadonho gesto da aula sem interesse
Achava
eu que falta hoje - e não encontrei mais
no Colégio, nem na Universidade, gente que gostasse tanto de nós como esse grupo de gente respeitada, esse universo
de heróis.
Aproximava-se
o fim das férias escolares e em cada e
um entusiasmo novo acercava-se desses profissionais em quem os nossos pais
confiavam, sem a superioridade irritante dos professores de outros graus de
ensino.
Quer
os professores a quem éramos distribuídos quer os outros, intuía-se um
respeito profundo por eles, e eles por todos, sem preconceitos, que persiste para sempre em nós.
Sempre
lhes admirei o carinho e a paciência com que nos ensinaram as primeiras letras.
Mas
o que queria aqui vincar é que salvo a excepção que sempre ocorre, e que
confirma a regra geral, eles reuniam as condições de carácter, de profissionalismo,
de entusiasmo renovado para serem óptimos professores, sobretudo educadores .
A
adrenalina por um novo ano de trabalho, a coesão inter-pares, a aprendizagem e
o desejo
de corrigir os erros do passado
eram condições indispensáveis para se
tornarem melhores professores.
Tudo
o mais foi conseguido por nós.
Daí
que para mim os verdadeiros heróis da educação continuem a ser os antigos
professores primários.
João Castanho