10.6.15

OPINIÃO - Os Heróis da Educação: Os antigos professores primários, hoje ditos do 1.º ciclo

Relembro o meu percurso escolar, nomeadamente a minha instrução primária, e nesse âmbito registo um conjunto de professores naturais da minha terra à frente dos quais colocaria António Paralta de Figueiredo, meu excelso professor, e  filho dessa figura  marcante de homem, de nisense e de professor que foi sem sombra de qualquer dúvida seu pai  José Francisco Figueiredo.
Igualmente num plano elevadíssimo de dedicação ao ensino coloco Georgete Morais , mãe do nosso ilustre conterrâneo  Arménio Morais, médico que com tantos outros, saudosa gente, com quem partilhámos a mesma sala de aula….José Maria Moura, cuja bondade e exemplo mais uma vez aqui se regista quer enquanto professor quer através da sua brilhante carreira de desportista, João Sena Aldeia, João Louro e tantos outros partilhámos a mesma sala de aula e o mesmo professor, nós na primeira, e depois segunda ( o  aqui subscritor do presente texto , e outros  como António  Maria Pereira Bicho (meu dilecto amigo, saudoso companheiro de carteira  já falecido), Armando Pimentel  Basso, Carlos Manuel Telo Gonçalves, João Faria, Rui de Sousa e tantos outros amigos  cuja memória  de momento  não ocorre.
Sou ainda afilhado de dois professores primários.
Adentrei a vida profissional em Portalegre aos dezoito anos onde pude conviver com professores e candidatos a professores.
Foi aliás criada nessa altura a Escola do Magistério Primário em Portalegre.
Por toda a vida me ficou o entusiasmo renovado com que essa plêiade de educadores nos esperava em Outubro, eles próprios a quererem demonstrar que o acumular de experiência os transformaria continuadamente em melhores professores... Erros sim, mas para não repetir, que a semente a  lançar produziria melhores árvores, com frutos de melhor qualidade.
Via-se-lhes nos rostos em cada ano esse renovado entusiasmo, esse espírito novo, nunca o enfadonho gesto da aula sem interesse 
Achava eu que falta hoje - e não encontrei mais  no Colégio, nem na Universidade, gente que gostasse  tanto de nós como  esse grupo de gente respeitada, esse universo de heróis.
Aproximava-se o fim das férias escolares e em cada e um entusiasmo novo acercava-se desses profissionais em quem os nossos pais confiavam, sem a superioridade irritante dos professores de outros graus de ensino.
Quer os professores a quem éramos distribuídos quer os outros, intuía-se um respeito profundo por eles, e eles por todos, sem preconceitos,  que persiste para sempre em nós.
Sempre lhes admirei o carinho e a paciência com que nos ensinaram as primeiras letras.
Mas o que queria aqui vincar é que salvo a excepção que sempre ocorre, e que confirma a regra geral, eles reuniam as condições de carácter, de profissionalismo, de entusiasmo renovado para serem óptimos professores, sobretudo educadores .
A adrenalina por um novo ano de trabalho, a coesão inter-pares, a aprendizagem e o  desejo  de corrigir os erros do  passado eram condições indispensáveis para se tornarem melhores professores.
Tudo o mais foi conseguido por nós.
Daí que para mim os verdadeiros heróis da educação continuem a ser os antigos professores primários.
João Castanho