30.7.10

Evocação de Cruz Malpique (I)

Arabescos em Água Corrente – Homo Duplex
O prazer de morrer de alma limpa vale bem a pena de viver de alma suja.
Isso o dizemos todos. Isso se disse, sempre, e em todo a parte.
Mas, ai de nós!, que só por excepção (quase tão rara como as esmeraldas azuis) somos a negação do homo duplex, o tal que vê o bem, que aprova, e se deixa escorregar no plano inclinado do mal, que reprova: video meliora proboque, deteriora sequor.
Ajustar ou não ajustar a letra à caneta, eis o bicudo problema. Levante o braço aquele dos leitores que nunca se deixou escorregar no plano inclinado da alma suja, em favor da alma quimicamente pura, feita de sem medo e sem mancha.
Se, como diz a sagrada teologia, nós somos feitos à imagem e semelhança de Deus – a Suprema Perfeição – onde está, em cada um de nós, essa imagem e semelhança?
Homem, animal de contradições... É ouvir Bernardim Ribeiro, o da “menina e moça”:
Dentro do meu pensamento
que sento contra o que sento
há tanta contrariedade
vontade contra-vontade.
Cruz Malpique