2.7.10

EVOCAÇÃO: O meu Avô Chaves, da honra ao carácter.

O meu Avô Chaves , como era conhecido em Nisa , era uma pessoa extraordinária como poucas mais vi no meu deambular por este mundo .
Filho como eu de Maria Augusta, porventura nome adequado à pessoa de sua mãe, como eu igualmente filho de Maria Augusta, sua filha, minha santíssima Mãe,por quem não há dia nenhum que não lembre , não chore a sua falta , não soluce como no dia da sua morte,bem como meu querido pai Joaquim Maria Castanho ( pedreiro ) cuja bondade , compreensão, amizade infinitas sempre louvarei.
Pois o meu avô Chaves , oriundo das terras de Viseu (nunca perdeu o sotaque característico apesar de tantos anos no Alentejo, e para quem minha mãe era tudo (e vive versa ), reformado da GNR, que tinha no Dr. António Granja, essa figura ímpar de médico e ser humano, um grande amigo (respeitavam-se profundamente ), era titular de uma medalha e louvor escrito da distinção de honra ao mérito, atribuída pelo Ministro da Tutela ao tempo, por ter salvo a vida de uma criança da investida de um touro bravo no Ribatejo, não hesitando em cobri-lo com o seu corpo com grave risco da sua própria vida, acabando por sofrer uma investida do touro que lhe perfurou o rosto (doc. que possuo mas que não consegui localizar hoje para aqui transcrever ).
Esse valente era o meu Avô Chaves aquele mesmo homem de uma integridade moral e nobreza sem limites que o levou a ser procurado desesperadamente em Nisa, na Ribeira do Porto de Arês ( creio ), onde pescava, para prestar testemunho abonatório de um grande amigo, seu antigo Comandante, preso por razões políticas, e a ser julgado no Tribunal Plenário de então.
Podia lá meu Avô faltar com a ajuda a esse seu grande amigo, e prestando depoimento perante as blagues de um ronceiro senhor Juiz Conselheiro, o meu Avô olhou-o fixamente uns instantes, com o seu olhar cortante, ( ... “o senhor também é militar” ... lembrava o conselheiro, a amedrontar a testemunha ), e repetiu mais alto e ainda de forma mais audível e mais uma vez , para nada mais acrescentar, o extraordinário depoimento que já levava consigo, em respeito e defesa de um amigo, seu saudoso comandante, a quem competia naturalmente ajudar.
Afundou-se na cadeira e calou-se o afadigado Juiz Conselheiro sem mais vontade para brincadeiras.

Nisa - Porta de Montalvão (1957
É que meu Avô gostava pouco de brincadeiras com coisas sérias, a esses ele ridicularizava com a maior das facilidades.
Por fim e para sua desgraça o meu Avô, vejam lá... tornou-se amigo de um senhor inglês que costumava passear com ele como uma sombra (o Senhor Parkinson), e conhecendo nós a anedota, exagerada claro, de um determinado político não poder ganhar as eleições para PR por causa de ser uma pessoa de certa idade e ter dois grandes amigos (um inglês Parkinson e outro alemão Alzheimer, o homem até parece que não tem isso...) vejam lá o drama e sofrimento deste meu avô, de ter esse tal inglês um tal Parkinson como amigo inseparável, e não é que um dia sorrateiramente também como uma sombra se faz meu amigo, e não me deixa nem de dia nem de noite....
Oh Avô... e dizia a mãe que eu era o neto que me identificava mais contigo, perdoem-me o meu irmão e primos o exagero, mas esse tal de Parkinson, nosso amigo comum com João Paulo II, é mesmo um mal ou doença muito perturbadores.
O que não é concerteza exagero é a tua subida honra ao carácter ser mais ajustada que a honra ao mérito que te foi atribuída, e que te queria entregar, com todo o amor de um neto, perante a grandeza de tal homem, com tal carácter.
João Castanho