A vida política portuguesa é imprevisível. Há poucas semanas, era do senso comum dizer-se que o Governo tinha carta de alforria até meados de 2026. Porque tinha um Orçamento aprovado e porque, a partir de setembro, Marcelo Rebelo de Sousa ficaria impedido de resolver crises políticas através da dissolução da Assembleia da República (nenhum presidente o pode fazer nos últimos seis meses de mandato). Mesmo que a “minoria absoluta” do PSD e do CDS no Parlamento fosse incapaz de fazer aprovar um Orçamento para 2026 (o que parecia ser bastante provável), teria de governar em duodécimos até que houvesse novo presidente em funções, algures em março do próximo ano.
O facto de se adivinhar que o próximo
presidente da República poderia ter uma crise para resolver, assim que tomasse
posse, ajudou a acelerar a corrida a Belém. Ao ponto de Marques Mendes, que
tinha lugar cativo e audiência televisiva todos os domingos, se ver obrigado a
lançar formalmente a candidatura. Foi o primeiro porque era preciso blindar o
espaço no centro-direita e dar combate à ameaça do independente Gouveia e Melo,
o auto designado centrista que liderava (e lidera) as sondagens, sem precisar
sequer de abrir a boca.
Mas depois veio a crise. Não por causa
de “coligações negativas”, mas por causa dos negócios prévios do
primeiro-ministro. Depois de uma aceleração, travões a fundo nas presidenciais.
Marques Mendes é bem capaz de ficar a falar sozinho, sem adversários dignos de
nota, mas também sem jornalistas que amplifiquem a mensagem. Gouveia e Melo já
fez saber que a formalização da candidatura fica para depois das legislativas,
ou seja, lá para o final de maio ou princípios de junho. O mar está revolto e o
almirante não se faz ao mar. Fica em doca seca, é mais seguro. Passará ao lado
da discussão, no conforto de saber que lidera as sondagens, inclusive numa
potencial segunda volta. Teremos de esperar mais uns meses para saber o que
pensa e porque quer ser presidente da República.
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Rafael Barbosa –
Jornal de Notícias - 13 março, 2025