A estupidez é mais perigosa do que a maldade. Alimenta-se da manipulação dos ignorantes e cresce em bando, facilitando o desenvolvimento de regimes totalitários. A teoria da estupidez foi postulada pelo pastor luterano Dietrich Bonhoeffer pouco antes de ser enforcado pelo regime nazi. As suas reflexões sobre a ascensão de Hitler, que aconteceu num período de grave crise económica e social e perante a passividade de um povo anestesiado, são perturbadoramente atuais. Segundo o filósofo alemão, a estupidez é um problema de base social porque até uma pessoa que sozinha é perfeitamente racional nas suas decisões pode cometer atos extremos, quando envolvida em dinâmicas grupais. Pior, explicou Bonhoeffer, o estúpido nunca reconhece a sua imbecilidade, jamais cede a argumentos lógicos ou apoiados em factos, e é facilmente instrumentalizado, tornando-se uma arma pronta a disparar nas mãos de um qualquer ditador mais ou menos legítimo.
Se a estupidez era perigosa antes das
redes sociais, agora está letalmente normalizada, disseminada pelos algoritmos
dos magnatas tecnológicos. É demasiado fácil fazer pontes com o que passa no
Mundo por estes dias. O triste espetáculo de sexta-feira na Sala Oval - uma
armadilha lançada por Trump e o seu cão de fila Vance a Zelensky - parece
demasiado estúpido para ser verdade, mas teve pelo menos o mérito de sacudir a
Europa enfraquecida, envelhecida e dependente para a necessidade de se defender
e armar, para responder aos EUA e conter a Rússia.
Por cá, a estupidez tem um novo rosto:
Tiago Grila, um autointitulado influenciador que ganha a vida a publicar vídeos
absurdos nas redes confessou um crime (atropelamento e fuga) num podcast,
perante a gargalhada covarde do entrevistador. Face à polémica, disse que afinal
tinha sido uma brincadeira e depois fugiu do país, deixando a vítima (que
reconheceu o relato como o acidente que a deixou com sequelas até hoje) e o
país estupefactos com a audácia da sua ignomínia. É o triunfo da estupidez.
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Helena Norte –
Jornal de Notícias - 04 março, 2025