30.1.25
OPINIÃO: O populismo de Moedas
Qualquer autarca gosta de receber boas notícias. Quando as estatísticas oficiais demonstram que a criminalidade violenta e grave registou a segunda maior descida numa década, estamos inequivocamente perante uma boa notícia. Exceto se em causa estiver a cidade de Lisboa e a realidade entrar em contradição com as declarações do presidente da Câmara. Para Carlos Moedas, é um evidente aborrecimento que os números tentem contrariar a violência que ele vê à solta nas ruas de Lisboa.
O Comando Metropolitano de Lisboa confirma os dados avançados pelo DN de que a criminalidade geral na área da sua responsabilidade desceu 8,9%. Quanto à criminalidade violenta e grave, registou uma queda particularmente expressiva no concelho de Lisboa: menos 10,41%. Perante os números, Moedas é taxativo: “Eu insisto que os crimes que são praticados nesta cidade neste momento têm um grau de violência diferente”.
Além de voltar a defender a possibilidade de a Polícia Municipal efetuar detenções, o autarca argumenta que há pessoas atacadas que não vão à Polícia por receio, logo esses casos não estão nas estatísticas. É verdade, senhor presidente, essa realidade existe e chama-se “cifras negras”. É um fenómeno com barbas e que consta de todas as análises de criminalidade. Não serve para justificar a objetividade dos números.
Tem razão Carlos Moedas quando diz que há uma “politização” do tema à esquerda. Esquece-se de acrescentar que a mesmíssima politização existe à direita. A criminalidade tornou-se um dos temas preferidos dos nossos líderes políticos. Esgrimem-se perceções, insinuações e narrativas. De números cristalinos é que nem todos gostam. E se deixássemos de olhar para este tema com simplificações populistas e tentássemos evitar a política do medo?
• Inês Cardoso – Jornal de Notícias - 29 janeiro, 2025