31.12.24
OPINIÃO: Trancaram a porta da paz
O poder da palavra, na política e na religião, é tão mais eficaz quanto mais forem aqueles que nela creem. Só assim podemos esperar que as palavras se traduzam em atos e, num cenário idílico, inspirem mudança. Na mensagem Urbi et Orbi deste Natal, o Papa Francisco voltou a pedir paz. Não se lhe pode exigir outra coisa, por muito que a força dos seus apelos nos soe tão impraticável quanto as proclamações das candidatas a miss Universo. A porta da paz está “escancarada”, exortou Francisco. Mas só por ela passa quem alcançar uma reconciliação plena: primeiro consigo mesmo, depois com os inimigos. Ora, apenas uma elevada crença no divino nos permitirá acreditar que, em 2025, esse ódio cultivado pelas lideranças globais vai ser enterrado. Que as armas serão guardadas e as balas silenciadas. O Mundo que nos espera é um pecado em construção.
A Europa hesita entre o que foi e o que quer ser e é hoje capitaneada por impulsos extremistas. Não por acaso, o influente jornal “Politico” acabou de eleger Giorgia Meloni, a primeira-ministra italiana que admira Mussolini, como a personalidade política mais poderosa, capaz de falar com todos - e em particular com o novo inquilino da Casa Branca.
Trump é outro dos bloqueadores naturais dessa via aberta para a paz. A sua reencarnação presidencial será movida a vingança e a uma ainda maior impunidade. A mesma que vemos estampada nos rostos de Netanyahu e Putin. E depois a outra guerra, silenciosa, mas intensa, liderada pela China, que se agiganta sem filtros no terreno fértil da influência económica. O Papa Francisco sonha, mas o Mundo não vai nascer de novo. A porta da paz está trancada.
• Pedro Ivo Carvalho – Jornal de Notícias - 28 dezembro, 2024