4.6.23

OPINIÃO: Sem o apoio governamental

 
A antiga ministra da Saúde, Maria de Belém Roseira, há 30 anos, falava e defendia a rede das Escolas saudáveis, promotoras da saúde. Considerava que investir na literacia da saúde junto dos jovens traria benefícios no futuro.
É nesta perspetiva que, quando falo com os jovens, esclareço a necessidade de aderirem à dádiva de sangue, explicando a necessidade da substituição dos dadores que atingem o limite de idade para a dádiva, ou daqueles, que por motivos de saúde, não podem continuar a dar sangue e, explico que para isso, que devem ter hábitos de vida saudáveis.
Trata-se de optarem por uma alimentação saudável, hábitos de atividade física e evitarem comportamentos de risco. Ou seja, as drogas, incluindo álcool e o tabaco; atividade sexual de risco e uso desregulado de medicamentos. Os dados recentes sobre a saúde dos jovens são alarmantes.
Costumo transmitir aos jovens que a dádiva de sangue precisa deles como dadores e não como recetores. Se os jovens não optarem pelos comportamentos de vida saudável, no lugar de termos um reforço, vamos ter jovens a necessitarem de componentes sanguíneos e a piorar as reservas nacionais.
Esta sensibilização que eu e outros colegas voluntários fazemos junto da população juvenil, devia estar consagrada nos programas e manuais escolares. Faz parte da literacia à saúde junto dos jovens, assunto de que falava a antiga Ministra da Saúde.
Precisamos da adesão dos jovens à dádiva de sangue e para isso temos que explicar a grande necessidade de garantirmos reservas de componentes sanguíneos para as pessoas que estão doentes ou para os acidentados. Infelizmente os casos de oncologia aumentam e a necessidade de componentes sanguíneos como as plaquetas e medicamentos plasmáticos, também.
Por isso temos de ir ao encontro dos jovens nas Escolas e em grandes encontros massivos de jovens como os encontros nacionais de escuteiros, o ACANAC com milhares de participantes e este ano, na Jornada Mundial da Juventude com centenas de milhar de jovens peregrinos.
O sangue não se fabrica e sem ele, podem morrer pessoas, ou sentirem falta de qualidade de vida. Contudo, os nossos governantes, tratam a dádiva de sangue como um filho de um deus menor. Muitos dirigentes, pagam para serem voluntários, ou seja, para garantirem que ninguém morra por falta de sangue; principalmente nos primeiros meses de cada ano.
A própria Federação das Associações de Dadores de Sangue, FAS Portugal que representa o país além-fronteiras, não recebe um cêntimo para essa atividade, ao contrário de outras Federações internacionais. Não se entende, quando para o futebol voam milhões.
Até os próprios Partidos que à socapa financiam as eleições de Associações de Estudantes, não perdem um segundo, nem um cêntimo para investir na promoção da dádiva de sangue. Todos sabem que sem componentes sanguíneos, não há tratamentos e morrem homens, mulheres e crianças, mas assobiam para o lado.
O IPST, IP, faz uma ginástica colossal para garantir meios humanos e materiais para movimentar toda esta máquina com o apoio do movimento associativo, enquanto os governantes estendem a passadeira vermelha ao sistema financeiro para espremer a economia.
Faltam investimentos e medidas políticas para garantir a dádiva benévola de componentes sanguíneos. Mas quem se preocupa com isso? O regulamento europeu que está em discussão sobre a regulamentação dos componentes sanguíneos é mais uma desilusão e o que dizem os nossos eurodeputados? Nada!
A aposta tem que estar na literacia da saúde e em particular na dádiva benévola de sangue. Não fazem falta os alarmismos e condecorações a quem nada faz por esta causa, enquanto se movimentam interesses partidários numa causa onde não deve existir política, nem religião.
A pandemia foi a prova da generosidade dos nossos dadores, do empenho do movimento associativo, dos profissionais de saúde e da competência demonstrada pelo IPST, reconhecida pela Europa fora. A Presidente do Conselho Diretivo do IPST, a Dr.ª Maria Antónia Escoval foi recentemente a Copenhaga explicar como Portugal conseguiu estes resultados positivos em tempo de pandemia.
É mais uma prova do reconhecimento que a dádiva de sangue em Portugal, tem no estrangeiro e não é por acaso que a FAS Portugal tem eleitos no Comité Executivo da Federação Internacional (FIODS) e pode brevemente assumir de novo uma Vice-presidência. É um orgulho, mas também sem o apoio governamental.
* Paulo Cardoso - 02.06.2023 - Programa "Desabafos" / Rádio Portalegre