25.12.21

ALPALHÃO: A fala do povo num livro de José Caldeira Martins

O salão de festas da Tapada das Safras, encheu-se de gente no passado dia 5 de Dezembro para assistir à apresentação do livro "Alpalhão - Palavras, Falares e Modos de Dizer de uma Vila do Alentejo".
Na mesa da sessão, Rui Canatário, presidente da Junta de Freguesia, José Caldeira Martins, o autor e Fernando Mão de Ferro em representação da Colivri, a editora da obra.
Rui Canatário salientou a importância deste livro há muito prometido e aguardado pelas gentes de Alpalhão. Elogiou a perseverança do autor que ao longo de muitos anos fez o registo de centenas de expressões populares alpalhoeiras e do seu modo peculiar de as dizer, destacando as qualidades do autor, quer como médico-veterinário, quer como freguês e alpalhoense que, mesmo trabalhando noutro concelho, mantinha uma ligação permanente à terra onde nascera.
José Caldeira Martins, popularmente conhecido como Zé Alguém, não se fez rogado e chamou à liça, as possíveis origens do modo de falar alpalhoense. Uma lição de história seguida atentamente pelas pessoas que se deslocaram não só para adquirirem o livro, em primeira mão, mas para ouvirem as "estórias" ora sérias, ora mirabolantes, com que o autor entremeou cada uma das viagens ou ligações que fazia ao passado e às possíveis origens da "fala alpalhoeira". 
Respondendo ao apelos de muitos alpalhoenses, prometeu não ficar por aqui e trazer a público os escritos que em género de crónicas tem publicado na sua página na rede social, textos que misturam o modo de falar alpalhoeiro, as festas, as tradições, as alcunhas e situações presenciadas ou contadas por terceiros, que retratam a maneira peculiar de sentir e de viver dos alpalhoeiros.
Fernando Mão de Ferro, da Editora Colibri, por seu turno, mostrou-se satisfeito por participar numa sessão com tanta gente interessada, numa época  em que o livro quase entrou em desuso, o que para si é uma prova de que o povo sente-se gratificado quando alguém consegue dar uma imagem do seu apego às raízes e enaltecer a cultura dos antepassados, a sua identidade. Referiu, a finalizar, que o livro pelo seu valor, tinha sido patrocinado pela Direcção Regional de Cultura do Alentejo.
O Grupo de Contradanças de Alpalhão, com os seus trajes cheios de cor e vida, emprestou a sua alegria, danças e tradição a esta iniciativa cultural, dando-lhe um ar festivo. 
"Alpalhão, Palavras, Falares e Modos de Dizer de uma Vila do Alentejo" é um repositório de expressões e modos de as dizer dos habitantes de Alpalhão, por vezes acompanhadas com referências a episódios e pessoas que os protagonizaram, e recolhidos ao longo de décadas pela curiosidade e paciência de José Caldeira Martins. São 316 páginas alegres e bem humoradas, num livro que é a reafirmação da identidade alpalhoeira.
Retrato de um contador de histórias
José Caldeira Martins, nascido em Alpalhão em 1950, de ascendência alpalhoeira por várias gerações, sempre manteve uma forte ligação à sua terra mesmo nos anos em que, por exigência dos seus labores académicos - no Liceu Nacional de Portalegre, depois na Escola Superior de Medicina Veterinária - "andou por fora". Essa ligação reforçou-se ao ser colocado como médico-veterinário em Marvão. Tal actividade, que se prolongou por 45 anos, permitiu-lhe um contacto permanente com o campo e com as pessoas que mais guardam um património insuspeitado e diverso, tanto no léxico do dia a dia como nos modos de dizer. Desses fez colecção.
Do livro



* Mário Mendes in "Alto Alentejo" - 15/12/2021