13.10.20

OPINIÃO: "Salve-se quem puder!"

 

Neste país em que se discute a obrigatoriedade de se assistir a aulas de cidadania, devido ao preconceito, ao conservadorismo e até por leituras religiosas erradas, ficámos a saber, que na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, no segundo ciclo de estudos (mestrado), um professor defende que o feminismo é comparável ao nazismo. As queixas são muitas, mas a impunidade deste professor, Francisco Aguilar, é gritante, que quase parece um defensor do CHEGA, tal é o ódio aos direitos das mulheres; chega a desejar a morte a todas as feministas. Afirma ainda que o sexo masculino é "biologicamente privilegiado por Deus" e que o feminismo "é o mais criminoso regime da história".
À parte disto, a pandemia mostrou-nos como professores e alunos, conseguiram ultrapassar o confinamento, mas todos percebemos que sem a Escola física, não há garantias de progresso. Pais, alunos e professores aguardaram com ansiedade o regresso à Escola com o indispensável ensino presencial. Todos nós esperámos por medidas para tornar possível, em contexto de pandemia a segurança exigida. Mas tal não aconteceu e a reunião de emergência do concelho de ministros do passado dia 18-09-2020 resumiu-se a um, tenham cuidado e desenrasquem-se…
Assim foi, direções, professores e funcionários, tiveram de improvisar e autoconvencerem-se que são carne para canhão. O chumbo do PS, PSD, CDS e do Chega à proposta do BE, de redução do número de alunos por turma, comprometeu a viabilidade de termos salas de aula com segurança. De referir ainda, as dificuldades que a maioria das Escolas passam com a falta de condições, instalações degradadas e até sistemas de segurança inoperacionais ou em falta, para não falar do perigoso amianto. Os partidos que chumbaram a proposta, vão ter muito que explicar ao país, caso a DGS, ordene o fecho das Escolas, que nesta altura já registam mais de duas dezenas de surtos.
Falhou a falta da aplicação de um sistema abrangente multiforme e pluriespacial, contemplando espaços públicos para garantir menos densidade populacional nas Escolas. A agravar, temos Escolas com equipamentos informáticos obsoletos e internet sem qualidade. Ainda há muito por fazer neste ensino público conservador, sem democracia e com uma deficiente diferenciação pedagógica. A grande questão prende-se sempre com o mesmo, falta de investimento num setor tão fundamental para o desenvolvimento de um país e de referenciais adaptados aos nossos dias, com orientações pedagógicas sérias.
Professores e alunos partilham um ambiente que não é natural, que não respeita as regras, nem garante a segurança. Vem aí o inverno e as situações vão complicar-se. Os alunos parecem estar em prisões, onde até os manuais escolares faltam; faltam ainda, assistentes operacionais e os que há, são mal pagos e sem formação para as emergências que se avizinham. E com o número insuficiente de funcionários, o plano de desinfeção periódico e vigilância de comportamentos, vai conduzir ao esgotamento, dentro de tempos, se a pandemia em escalada progressiva, não fechar as Escolas… A classe docente está envelhecida e, sem medidas; um dia vamo-nos debater com a falta de professores, visto a carreira ser já pouco atrativa, desvalorizada e congelada...
Segundo a FENPROF, no início desta semana, temos pelo menos 47 concelhos do país em que se registam Escolas com casos de covid-19. Denuncia ainda que, em “menos de um mês após o início das aulas, já há 30 grupos de recrutamento com falta de professores”. Segundo a Federação Nacional de Professores, temos uma centena de estabelecimentos de ensino públicos e privados em todo o país com casos de covid-19 e quando nenhum aluno podia ficar para trás, já são muitos os que estão em casa sem alternativas e muitos sem meios.
De destacar o alarme que Passos Coelho e Paulo Portas não respeitaram, ao colocarem muitos professores no desemprego e no estrangeiro, assim como a Sr.ª Merkel que disse que tínhamos licenciados a mais, quando existe um manifesto envelhecimento da classe docente. Em Portugal, 54% dos professores têm mais de 50 anos e entre 2019 e 2022, vamos perder entre 12 mil a 15 mil docentes.
No início da pandemia, fomos todos apanhados de surpresa, mas para este novo ciclo, beneficiámos das férias do verão para prepararmos um ano letivo e tal não aconteceu. Da mesma forma, o Ministério da Educação não indica um plano “b” para a segunda vaga da pandemia. Todos sabemos que é inevitável e vai ser difícil que corra bem e mais uma vez, é o salve-se quem puder.
Paulo Cardoso -09-10-2020 - Programa "Desabafos" / Rádio Portalegre