26.10.20

OPINIÃO: Isto não vai lá com bazucas!

Basta olhar para o mundo e para os riscos que assumimos ao decidirmos que o mesmo não pode parar, para percebermos, que são necessárias medidas que, infelizmente, chegam sempre depois da “casa arrombada”. O regresso às aulas, exigia medidas dentro da Escola, mas, também fora da Escola – quem é que não percebeu isso? Os transportes públicos não podem continuar a ter pessoas apinhadas, mas andam… E não se combate uma pandemia com falta de clínicos, meios e funcionários.
Durante décadas, vários governos optaram por cortes no que é essencial à vida do país, incluindo os ataques ao SNS a ficar refém dos privados. Assistimos com admiração, à grande resposta que foi possível dar à pandemia com um SNS carente e com os privados a recuarem. Tal resposta, só foi possível à custa do bloqueio de serviços, diagnósticos, cirurgias e o esforço de muitos profissionais. Estas medidas já deram e vão dar mais problemas, dado que a situação dos serviços de saúde, tende a agravar e os tempos de espera são desesperantes.
Garantir médicos, enfermeiros, auxiliares e meios para todos, exige melhor organização e investimento. A exclusividade e uma estratégia de colocação dos médicos com condições é fundamental. As empresas de trabalho temporário para o recrutamento de médicos, não podem servir de garante destes serviços de primeira necessidade. E quanto ao investimento, não podemos aceitar enterrar dinheiro em privados, enquanto para o SNS, tem sido apenas promessas.
Na prática, a situação foi sempre de calamidade e a vida das pessoas não se pode resumir a meros números. As regras nos espaços públicos deviam ter sido mais responsáveis nestes meses que passaram. O flagelo social já atinge milhares de pessoas que têm de pedir para matar a fome. A situação é mais do que alarmante e não é por acaso, que o primeiro-ministro António Costa perdeu a cabeça e, perante o risco e a noção deste estado pandemónico, acordou e viu uma pandemia a mudar rapidamente de velocidade.
Apercebendo-se da realidade e da falta de estratégia, tirou da cartola a obrigatoriedade do uso da aplicação “StayAwayCovid” e deixou tudo e todos de boca aberta. Como tinha de acontecer, desistiu da obrigação e apela à utilização, como deve ser.
Para quem não gosta de política, fica aqui o alerta – é por falta de exigência política que permitimos a corrupção e não se investe onde é imperioso. Foi mais fácil apontar o dedo a este ou aquele governo, mas agora temos uma catástrofe social e económica e, de nada, nos vale apontar as culpas. Mais do que nunca, são necessárias medidas corajosas que protejam as pessoas e a economia. O Orçamento de Estado, é por isso vital e não pode ser um conjunto de promessas. Se este Orçamento investir a sério no SNS, o resultado nesta luta será exemplar, caso contrário, vamos sofrer bastante como os outros. Se investir, também, na Educação, podemos conseguir minorar os efeitos negativos que esta pandemia está a provocar neste sector tão essencial para o futuro do país.
Quem trabalha está desprotegido e a produtividade é substituída pela ganância do lucro, com leis do trabalho a proteger quem explora. O salário mínimo é um valor que supostamente, será o que permite a quem trabalha, sobreviver. O valor atual, face às necessidades é miserável, assistentes operacionais em escolas e serviços de saúde, pouco ganham acima do ordenado mínimo. Por isso a vida das pessoas é complicada, porque tem interessado mais aos governos, defender o grande aumento das fortunas milionárias que crescem a olhos vistos, mesmo em tempo de pandemia, enquanto as pessoas empobrecem por falta de aposta na vida das pessoas.
Enquanto for possível, empresas despedirem grávidas entre outros despedimentos escandalosos, ignorar a corrupção fiscal, termos pessoas a trabalharem e a empobrecerem, desvalorizar lares e creches em “vãos de escada”, escolas, centros de saúde e hospitais sem meios e bairros clandestinos que todos conhecem, o 25 de Abril está por cumprir. O país não precisa de um O.E. a todo o custo, precisa de uma resposta séria à crise. Com o O.E. o governo tem de apontar bem a artilharia para evitar o desastre social à vista. Se os foguetes não forem bem orientados, isto não vai lá com bazucas…

Paulo Cardoso - Programa "Desabafos" / Rádio Portalegre - 23/10/2020