11.9.17

RENDEIRAS DE NIZA - Um texto de Luís Keil (anos 40)

Nos confins do Alto Alentejo, encontra-se, localizada em Niza, uma antiga e curiosa indústria – a das rendas.
É interessante ver as rendeiras, sentadas em tripeças, junto das portas, vestidas com os trajos característicos – saias escuras com barras claras, roupinhas de pano, lenço traçado sobre o peito, e mantilha curta na cabeça ou o clássico chapéu nizense; adornadas com gargantilhas e fios de ouro, onde predominam os antigos hábitos de Christo, de ouro esmaltado.
Umas, com o rebolo sobre os joelhos, vão fazendo as rendas de colchete, qual delas a mais complicada, ou desfiando no alvo pano de linho os entremeios tão caprichosos, produtos de extrema paciência; outras fazem rendas de agulha, que servem as mais das vezes para colchas que levam anos a compor e que passam gerações guardadas nos arcazes, servindo somente em dias festivos de bodas ou batisados.
A indústria de rendas de Niza – até há pouco restringida quasi ao uso local, - tem ultimamente exportado muitos e belos exemplares, notando-se por isso um certo desenvolvimento no labor das rendeiras, que oxalá não abandonem os modelos e desenhos que ainda seguem e imprimem às suas rendas um carácter acentuadamente regional.
NOTAS: Na fig. 1 estão representadas duas rendeiras trabalhando à porta de casa nas rendas de rebolo, o mesmo sucedendo na fig. 3, onde essas rendeiras são acompanhadas por outra mulher que desfia um entremeio. Na fig. 2, das três mulheres, tipicamente vestidas, a do meio trabalha em renda de agulha.
Luís Keil
* Este texto de Luís Keil deve remontar ao início dos anos 40 do século passado quando o autor elaborou o Inventário Artístico de Portugal (Distrito de Portalegre -1943)