Anno do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil
oitocentos quarenta e seis, ao primeiro dia do mez de Junho do dito anno n´esta
villa de Niza e secretaria da Administração do concelho da mesma aonde se
achava o actual Administrador, António Bibiano Biscaia e Ortas, mandou o mesmo
metera pregão de venda e arrematação por tempo de hum anno que hade principiar
no dia de S. João do corrente anno, e hade findar em outro egual dia de mil
oitocentos e quarenta e sete; o Paço Episcopal, capella, quintal, e mais
pertences ficando o rendeiro obrigado a boa conservação e amanho de prédio,
sugeitando-se as vistorias que as authoridades julgarem necessárias para
vereficar em consertado do mesmo, e responsabilizando-se para com a Fazenda
Nacional pelos dannos e prejuízo que lhe causar, por dolo e ommissão e com
declaração que a Fazenda não idemminisara por occorrencias de cazos idênticos;
o qual andando em praça teve vários lanços, tendo por ultimo o de vinte mil e
trezetos reis que lhe poz Joaquim da Costa Soares debaixo dasmensionadas
condições, e por não haver qum mais desse lhe mandou o dito Administrador
arrematar ao que o porteiro satisfez com as solemnidades da lei, e deu, no seu
fiador e principal pagador a José Semedo Beato Gomes desta villa, do que para
constar mandou o dito Administrador fazer este Auto que todos assignarão.
Eu, Manoel Alvez Grácio, Escrivão da Administração o escrevi.
O Paço Episcopal na descrição de Motta e Moura
(...) Resta-nos falar do paço episcopal do bispo da diocese com
sua capellinha mui elegante e formosa, e campanários, e uma espaçosa e
fertilíssima cerca e cocheira, palheiros e cavalharices, isto no Arrabalde ao
fundo da rua do Mourato, próximo da antiga porta de S. Thiago; foi mandado
edificar nos annos de 1792, 93, e 94, por D. Manoel Tavares Coutinho, cujas
armas estão collocadas n´uma formosa lapide de marmore branco sobre a porta principal da entrada, e foi dirigida
a obra pelo seu secretario o cónego António Fernandes da Costa, que na
qualidade de vigário capitular governou o bispado no anno de 1828.
Havia antigamente n´este sitio uma estalagem com seu chão
contíguo, que eram de Diogo Dias Galliano, e umas casas térreas, e entre estes
prédios e a muralha vinha uma azinhaga da porta de Montalvão para a de S.
Thiago, mas o prelado comprou aquelles, havendo primeiro licença para isso, e
para possuir e transmitir a seus successores o novo paço que lhe foi concedido
por Alvará de 11 de Outubro de 1790, que está registado no 5º livro do Tombo da
camara, e mudou esta para o logar, em que se acha ao redor da cerca.
Concluída a obra, veiu seu dono estar aqui uma boa
temporada, e por sua morte os seus successores continuaram possuindo-a, mas era
tal a tendência, que em 1834 havia para a espoliação, que, fallecendo então o
ultimo bispo D. José Francisco da Soledade Bravo, incorporam-n`a nos próprios
nacionaes, e logo houve quem o quizesse comprar; mas o vigário geral da diocese
oppôz-se á venda; e já agora é de crer, que não se venda, porque os animos vão
quietando, e algumas ambições estão satisfeitas além de suas esperanças; e
todos reconhecem já a identidade do dono, e não quereriam ir arrematar um
prédio, que lhe podia mui breve ser reivindicado e pedido (1).
(1)
Foi
porém vendido, e além do comprador, outros pretendiam não só, mas disputavam
também a compra. Se é legal a posse ou não, que importa? É um facto consumado,
como tantos outros!