29.9.17

NISA: Memória Histórica - A arrematação do Paço Episcopal (1846)

Auto de Arrematação do Paço Episcopal com seu quintal arrendado a Joaquim da Costa Soares por 2.300 réis
Anno do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil oitocentos quarenta e seis, ao primeiro dia do mez de Junho do dito anno n´esta villa de Niza e secretaria da Administração do concelho da mesma aonde se achava o actual Administrador, António Bibiano Biscaia e Ortas, mandou o mesmo metera pregão de venda e arrematação por tempo de hum anno que hade principiar no dia de S. João do corrente anno, e hade findar em outro egual dia de mil oitocentos e quarenta e sete; o Paço Episcopal, capella, quintal, e mais pertences ficando o rendeiro obrigado a boa conservação e amanho de prédio, sugeitando-se as vistorias que as authoridades julgarem necessárias para vereficar em consertado do mesmo, e responsabilizando-se para com a Fazenda Nacional pelos dannos e prejuízo que lhe causar, por dolo e ommissão e com declaração que a Fazenda não idemminisara por occorrencias de cazos idênticos; o qual andando em praça teve vários lanços, tendo por ultimo o de vinte mil e trezetos reis que lhe poz Joaquim da Costa Soares debaixo dasmensionadas condições, e por não haver qum mais desse lhe mandou o dito Administrador arrematar ao que o porteiro satisfez com as solemnidades da lei, e deu, no seu fiador e principal pagador a José Semedo Beato Gomes desta villa, do que para constar mandou o dito Administrador fazer este Auto que todos assignarão.
Eu, Manoel Alvez Grácio, Escrivão da Administração o escrevi.
 O Paço Episcopal na descrição de Motta e Moura
(...) Resta-nos falar do paço episcopal do bispo da diocese com sua capellinha mui elegante e formosa, e campanários, e uma espaçosa e fertilíssima cerca e cocheira, palheiros e cavalharices, isto no Arrabalde ao fundo da rua do Mourato, próximo da antiga porta de S. Thiago; foi mandado edificar nos annos de 1792, 93, e 94, por D. Manoel Tavares Coutinho, cujas armas estão collocadas n´uma formosa lapide de marmore           branco sobre a porta principal da entrada, e foi dirigida a obra pelo seu secretario o cónego António Fernandes da Costa, que na qualidade de vigário capitular governou o bispado no anno de 1828.
Havia antigamente n´este sitio uma estalagem com seu chão contíguo, que eram de Diogo Dias Galliano, e umas casas térreas, e entre estes prédios e a muralha vinha uma azinhaga da porta de Montalvão para a de S. Thiago, mas o prelado comprou aquelles, havendo primeiro licença para isso, e para possuir e transmitir a seus successores o novo paço que lhe foi concedido por Alvará de 11 de Outubro de 1790, que está registado no 5º livro do Tombo da camara, e mudou esta para o logar, em que se acha ao redor da cerca.
Concluída a obra, veiu seu dono estar aqui uma boa temporada, e por sua morte os seus successores continuaram possuindo-a, mas era tal a tendência, que em 1834 havia para a espoliação, que, fallecendo então o ultimo bispo D. José Francisco da Soledade Bravo, incorporam-n`a nos próprios nacionaes, e logo houve quem o quizesse comprar; mas o vigário geral da diocese oppôz-se á venda; e já agora é de crer, que não se venda, porque os animos vão quietando, e algumas ambições estão satisfeitas além de suas esperanças; e todos reconhecem já a identidade do dono, e não quereriam ir arrematar um prédio, que lhe podia mui breve ser reivindicado e pedido (1).
(1)   Foi porém vendido, e além do comprador, outros pretendiam não só, mas disputavam também a compra. Se é legal a posse ou não, que importa? É um facto consumado, como tantos outros!