Visitei
pela primeira vez no passado domingo, o Mercado Municipal, após as obras de
remodelação de que foi alvo.
Numa
manhã fria e com um tempo agreste, não foram muitas as pessoas que se
deslocaram àquele espaço de comércio e de convívio.
Observei
o novo aspecto do Mercado Municipal, inaugurado há mais de 50 anos. Fechei por
momentos, os olhos, e viajei no tempo, procurando as lembranças de tantos e
tantos momentos felizes ali passados, nas visitas a meu pai, funcionário da Câmara
e do Mercado, a tempo inteiro e sem dias de descanso em troca de um salário de
miséria.
Ainda
me lembro dos bailes no Mercado. A orquestra a tocar no centro do recinto num
palco improvisado, em cima do poço que as obras de remodelação extinguiram. O
senhor Bugalho, rosto avermelhado, a tocar o saxofone, rapazes e raparigas, a
dançarem, animadamente, em volta do palanque.
O
Mercado Municipal há muito que merecia e justificava as obras de restauro e
modernização a que agora foi sujeito. Pela sua idade e, principalmente, pelo
conforto e comodidade, tanto de quem ali vende – estes, em primeiro lugar –
como de quem se desloca não só para fazer compras, mercar, como para aproveitar
as manhãs de quintas-feiras e domingos para conviver, confraternizar à volta de
um cafezinho e de um pedaço de brunhol do Ti Serralhinha.
O
Mercado Municipal – este e os outros por esse país fora – são ainda uma réstea do
mundo rural que a chamada modernidade foi, aos poucos, aniquilando e permanecem
como espaços de excelência de trocas comerciais, de convívio e de afectos.
Devo
dizer que gostei do que vi. As obras não estão ainda terminadas. Há ainda
muitas correcções a fazer e, talvez por me apresentar com a máquina fotográfica,
logo se me apresentaram alguma pessoas chamando a atenção para este e aquele
problema.
São
questões simples e pouco onerosas de resolver, não tendo a pretensão de fazer
aqui uma listagem de todas as situações.
Algumas
saltam à vista. A conclusão das rampas de acesso, em toda a sua extensão e
garantindo uma zona de salvaguarda para a entrada de pessoas e veículos é uma
delas. A outra, respeita à instalação de algerozes em todo perímetro do telhado
do edifício, nomeadamente, nas entradas. Num dia de chuva como foi o de domingo,
a intempérie fustigada pelo vento entrava pelo Mercado, atingindo, em primeira
instância, os vendedores mais próximos da entrada.
À
parte, estas questões, as pessoas que ouvi mostraram-se satisfeitas e elogiaram
as obras de remodelação, lamentando, apenas, as condições atmosféricas do dia, que
impediram que mais pessoas se deslocassem ao Mercado.
Uma
palavra para os painéis de azulejos. Há por aí quem se mostre preocupada com o
seu custo, esquecendo ou julgando que perdemos a memória em relação a outros
custos, sem justificação e cabimentação, feitos no tempo da outra senhora.
Eu
não estou preocupado com os azulejos. Estão ali, à vista de toda a gente, para
serem apreciados ou criticados. São património colectivo, de toda a comunidade.
Gosto. Tanto, que em minha casa, aquando da sua construção, fiz um esforço
suplementar para instalar um painel à entrada. Motivos de Nisa, tais como os do
mercado. Património histórico, afectivo, elogiado por quem me visita. Como,
julgo, serão os do Mercado Municipal. Um deles, junto à venda de brunhol do Ti
Serralhinha (há-de ser sempre o Ti Serralhinha, que Deus haja) fez-me viajar à
minha infância e adolescência. Está ali o Mercado do Rossio, tradicional,
pobrezinho, sem condições, mas alegre, cheio de cheiros e aromas com sabor a vida.
O
painel, magnífico, retrata, de certa forma, as modificações que a vila foi
sofrendo e as que ocorreram no conceito de espaço comercial.
Cinquenta
anos depois, o Mercado Municipal de Nisa atinge, finalmente, as condições mínimas,
de higiene, salubridade e conforto, podendo tornar-se – e deve ser aproveitado
nesse sentido – como um espaço cultural, artístico e de convívio.
O
pessoal da tabanca tem, desta vez, razões para estar contente!
Mário
Mendes