A lesão medular é uma das
situações mais dramáticas que pode surgir na vida de uma pessoa. Em muitos
casos instala-se de forma súbita após um traumatismo, por vezes minor, como uma
queda em casa, noutros casos instala-se de forma insidiosa, ao longo de semanas
ou meses. De qualquer forma, condiciona mudanças importantes no modo de viver e
de realizar as tarefas do dia-a-dia, com impacto não apenas no próprio
individuo, mas também na família. A Reabilitação, através de uma abordagem
multiprofissional, contribui de forma decisiva para maximizar as capacidades
funcionais, promover a autonomia e a participação social.
O CMR Alcoitão, desde a fundação em
1966, tem um Serviço destinada à reabilitação de Lesões Medulares. A equipa de
reabilitação, constituída por terapeutas, enfermeiros, psicólogos, dietista,
ortoprotésicos e técnicos de serviço social, é coordenada pelo médico Fisiatra,
que é também o interlocutor privilegiado com as outras especialidades médicas
ou cirúrgicas.
O programa de reabilitação é
abrangente e global, incidindo sobre todos os aspetos do funcionamento do
individuo, não só as incapacidades motoras, mas também as características individuais,
sejam psicológicas, culturais ou de envolvência social. Deste modo, o programa
de reabilitação é individualizado, sendo estabelecidos objetivos nas diversas
áreas de intervenção, pela equipa em conjunto com o doente. O fim último é sem
dúvida promover a participação da pessoa com lesão medular na sociedade.
À luz dos conceitos da
funcionalidade humana, a tecnologia (enquanto produto de apoio) é um dos
fatores do ambiente que pode facilitar a participação. As pessoas com lesão
medular dependem de uma variedade de produtos de apoio para manter o seu estado
de saúde e para realizar as atividades diárias. À medida que o mundo se torna
tecnologicamente mais avançado, fica também mais acessível em muitos aspetos
para pessoas com mobilidade reduzida. Contudo, num futuro próximo, colocam-se
alguns desafios. O primeiro prende-se com o financiamento: o desenvolvimento
tecnológico promete aumentar as capacidades das pessoas com lesão medular; mas
será que o acesso aos novos produtos não será limitado por questões económicas?
Como garantir a equidade? Que formas de comparticipação na atribuição de
produtos de apoio? Outra questão a considerar refere-se à importância de
envolver os utilizadores no processo de desenvolvimento do produto, design e
fabrico. Os produtos de apoio devem ser concebidos em resposta a necessidades
concretas e adaptados ao que os indivíduos que os vão utilizar realmente
pretendem; a visão do engenheiro/designer nem sempre coincide com o ponto de
vista da pessoa que vai usar esse produto no seu dia-a-dia; é por isso
fundamental a participação dos utilizadores desde o início do processo, para
que se adequa às suas efetivas necessidades.
Reabilitar significa tornar a
habilitar, ou seja, promover a capacitação para aumentar a participação. Estamos
certos que a tecnologia irá desempenhar um papel relevante nesse caminho.
Este é um dos temas que estará em
debate no I Simpósio Ibérico em Lesões Vertebro-Medulares ,
uma iniciativa conjunta da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, do Instituto
de Investigação em Ciências da Vida e Saúde da Universidade do Minho (ICVS/3Bs)
e da Associação Salvador, que decorre de 30 de novembro a 1 de dezembro, no
Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão.
* Dra. Filipa Faria - Diretora de
Serviço de Reabilitação de Adultos no Centro de Medicina de Reabilitação de
Alcoitão