3.7.13

HOJE É DIA DE S. PEDRO (III)

S. Pedro na toponímia do concelho
Nos textos anteriores salientámos a importância da veneração a S. Pedro, padroeiro dos pastores, no concelho de Nisa, particularmente, as festas que em sua honra eram feitas em Nisa e Montalvão. Celebrações semelhantes ocorriam também em Tolosa, Amieira do Tejo e Alpalhão, terras que tinham capelas dedicadas ao chamado “Príncipe dos Apóstolos”.
Em Amieira, muito antes de ser “do Tejo”, existiu uma capela erigida em sua honra e as festas deste santo popular eram bastante concorridas e com um cerimonial próprio.
Em Tolosa, terra de queijos, de rebanhos e pastores, há uma rua (e uma travessa) com o nome de S. Pedro, o que atesta a admiração popular por este santo.
Podemos perguntar-nos de onde vem o nome do Monte de S. Pedro, entre Chão da Velha e Falagueira, um dos vários povoados do concelho de que apenas resta a memória e um amontoado de pedras, como poderemos questionar a origem de algumas famílias de sobrenome São Pedro, comuns nas freguesias de S. Matias e de Santana.
Em Alpalhão, perduram as fogueiras e a festa religiosa realizada na capela devotada a S. Pedro, situada na rua com o mesmo nome, curiosamente, uma das mais importantes da vila.
Os alpalhoeiros ou alpalhoenses, muito ciosos das suas devoções e tradições não seguiram a “moda” de Nisa em mudar o nome às ruas por “dá cá aquela palha”.
Rua de São Pedro, vendo-se ao fundo a casa da D. Adelina e á direita o local onde estava a capela do santo
Em Nisa, no início dos anos 30, o nome da Rua de S. Pedro - paralela ao edifício da fundação Lopes Tavares, que hoje alberga os principais serviços da Santa Casa da Misericórdia – foi substituído pela designação de Rua Capitão Vaz Monteiro, por decisão (imposição) de um outro oficial do Exército, tenente Falcão, que exercia as funções de presidente da Comissão Administrativa da Câmara de Nisa.
Os motivos da alteração toponímica, nunca contestada pelos nisenses, ainda menos em tempos de Dictadura, prendem-se, tão só e apenas, com a troca de favores políticos.
Vaz Monteiro, então Governador Civil, terá conseguido arranjar algumas verbas para obras no concelho, a sofrer, na altura uma grande crise de trabalho e em agradecimento, Falcão, mandou às malvas a história e a memória dos nisenses e numa chapa de lata – que ainda hoje perdura – opôs-lhe o nome do oficial que o favorecera.
E, podemos acrescentar, não se ficou por aqui. Uma reportagem do jornal “O Século”, em 1932, por ocasião da visita a Nisa, do Presidente da República, Óscar Carmona, foram “serviços” que o tenente Falcão considerou relevantes, a ponto de mudar o nome da Rua das Adegas para Rua de “O Século”, num concelho onde mais de setenta por cento da população não sabia ler nem escrever.
O crime de lesa memória, histórica e afectiva, da Rua de S. Pedro é tão ou mais relevante por ser este um nome muito antigo, numa rua que antes era Canto (Canto de S. Pedro) e na qual se situava a capela em honra do detentor das “chaves do Céu”, demolida no final dos anos 60 para dar lugar ao Centro Infantil ali existente, tendo sido alienada para o efeito, importante parcela dos espaço público.
Mas, isso, são outras histórias que, se tivermos oportunidade, traremos a público.

Mário Mendes