1. Os números vindos a público referentes à estatística do
movimento de utilizadores das estâncias termais relativo ao primeiro semestre
de 2012 mostra um balanço negativo e uma situação preocupante nos (infelizmente
apenas dois) balneários do Alentejo. Em Cabeço de Vide (concelho de Fronteira)
a quebra é significativa caminhando para pouco mais de metade do que já foi. De
Nisa, misteriosamente, o inventário estatístico oficial nem faz referência, mas
os números que se conseguem conhecer atiram para um recuo de trinta anos!!!
2. A crise do termalismo é nacional e tem na sua base
múltiplos fatores que não cabe escalpelizar neste escrito. Só que a situação do
termalismo alentejano (por desatenções, desinteresses e incapacidades apenas
com dois estabelecimentos quando poderiam -e deveriam - nesta altura ser
sete!!!) está num estado muito mais gravoso que a média nacional. Contribuem
para isso a falta de estratégia global e cooperação entre as entidades concessionárias,
falhas clamorosas de gestão, baixa qualidade de atendimento e atenção aos
curistas, intervenção médica não reconhecida como valor acrescentado real pelos
utentes mais «experientes», absoluta ausência de investigação (mesmo a mais
básica), política de preços inadequada, etc.
3. No etc. cabe a ausência de uma promoção qualificada do
produto. Da responsabilidade, antes do mais, das unidades gestoras, tanto mais
que são de natureza pública. Mas muito da falta de atenção (para ser
«simpático») que a entidade regional de turismo manifesta pelo setor, que é dos
poucos que pode fixar populações forasteiras por um período médio acima de uma
semana, com o que isso pode representar nas economias locais.
4. A propósito do recente desmantelamento de estruturas
próprias para a promoção do Alqueva e
Alentejo litoral, com a previsível integração, a unidade regional de turismo
garantiu de imediato (e bem) que não haveria prejuízo para a divulgação dos
produtos lazer e balnear (praia). Importa acentuar que, mesmo com a situação
atual, nas termas os curistas deslocados permanecem, mediamente,12 dias, tempo
superior à estadia na praia nos tempos que correm.
5. É chocante passar os olhos pelas «newsletters» da «TA»
(leia-se Turismo do Alentejo) e, meses seguidos, não haver uma referência
promocional ao termalismo (por muito elementar que seja).Desta forma, mesmo
regionalmente, muita gente julga só poder fazer cura termal no Luso ou em São Pedro do Sul. Infelizmente
isto não é exagero! Assim não se cria uma cultura de valorização do uso (terapêutico
e turístico) da água mineral medicinal e de consciencialização do contributo
que, como nenhum outro setor, pode dar para animar vários segmentos da vida
local e regional.
6. Nos últimos 20 anos, a região recebeu muitos milhões de
euros (isso mesmo!) de ajudas nacionais e europeias para desenvolver o
termalismo. Tanto dinheiro gasto e os resultados são aqueles que motivam esta
reflexão! Porque, sendo verdade e justo prosseguir na reclamação, desta forma,
perde se, moralmente, a razão para protestar contra a falta de apoios que o
país político centralizado nos concede..
* José Manuel Basso - Médico hidrologista