2.12.12

OPINIÃO: No Alentejo, turismo não rima com termalismo


1. Os números vindos a público referentes à estatística do movimento de utilizadores das estâncias termais relativo ao primeiro semestre de 2012 mostra um balanço negativo e uma situação preocupante nos (infelizmente apenas dois) balneários do Alentejo. Em Cabeço de Vide (concelho de Fronteira) a quebra é significativa caminhando para pouco mais de metade do que já foi. De Nisa, misteriosamente, o inventário estatístico oficial nem faz referência, mas os números que se conseguem conhecer atiram para um recuo de trinta anos!!!
 2. A crise do termalismo é nacional e tem na sua base múltiplos fatores que não cabe escalpelizar neste escrito. Só que a situação do termalismo alentejano (por desatenções, desinteresses e incapacidades apenas com dois estabelecimentos quando poderiam -e deveriam - nesta altura ser sete!!!) está num estado muito mais gravoso que a média nacional. Contribuem para isso a falta de estratégia global e cooperação entre as entidades concessionárias, falhas clamorosas de gestão, baixa qualidade de atendimento e atenção aos curistas, intervenção médica não reconhecida como valor acrescentado real pelos utentes mais «experientes», absoluta ausência de investigação (mesmo a mais básica), política de preços inadequada, etc.
 3. No etc. cabe a ausência de uma promoção qualificada do produto. Da responsabilidade, antes do mais, das unidades gestoras, tanto mais que são de natureza pública. Mas muito da falta de atenção (para ser «simpático») que a entidade regional de turismo manifesta pelo setor, que é dos poucos que pode fixar populações forasteiras por um período médio acima de uma semana, com o que isso pode representar nas economias locais.
 4. A propósito do recente desmantelamento de estruturas próprias para a promoção do  Alqueva e Alentejo litoral, com a previsível integração, a unidade regional de turismo garantiu de imediato (e bem) que não haveria prejuízo para a divulgação dos produtos lazer e balnear (praia). Importa acentuar que, mesmo com a situação atual, nas termas os curistas deslocados permanecem, mediamente,12 dias, tempo superior à estadia na praia nos tempos que correm.
 5. É chocante passar os olhos pelas «newsletters» da «TA» (leia-se Turismo do Alentejo) e, meses seguidos, não haver uma referência promocional ao termalismo (por muito elementar que seja).Desta forma, mesmo regionalmente, muita gente julga só poder fazer cura termal no Luso ou em São Pedro do Sul. Infelizmente isto não é exagero! Assim não se cria uma cultura de valorização do uso (terapêutico e turístico) da água mineral medicinal e de consciencialização do contributo que, como nenhum outro setor, pode dar para animar vários segmentos da vida local e regional.
 6. Nos últimos 20 anos, a região recebeu muitos milhões de euros (isso mesmo!) de ajudas nacionais e europeias para desenvolver o termalismo. Tanto dinheiro gasto e os resultados são aqueles que motivam esta reflexão! Porque, sendo verdade e justo prosseguir na reclamação, desta forma, perde se, moralmente, a razão para protestar contra a falta de apoios que o país político centralizado nos concede..
* José Manuel Basso - Médico hidrologista