Nem só de más notícias se faz a história da Câmara de Nisa.
Já aqui escrevemos, por diversas
vezes, que a Câmara quando quer, sabe fazer bem. Pena
que essa vontade ou determinação só ocorra de tempos a tempos ou, como diz o
povo “quando o rei faz anos”.
Vem isto a propósito da Ordem de
Trabalhos da sessão camarária marcada para a próxima 4ª feira, dia 19 de
Dezembro, que menciona, no seu ponto 3, a proposta de “Trasladação da Fonte do
Rossio para o seu lugar de origem na Praça da República” e, no ponto 4, a proposta de “Projecção de
Cinema no Cine Teatro na época natalícia de 2012” e “Projecção de Cinema
no ano de 2013.”
Estes pontos serão colocados e
analisados pelos eleitos no executivo que tomarão, naturalmente, as suas
posições. Contudo, não posso deixar de antecipar, sobre os mesmos, algumas
considerações.
Sete anos depois, reconhece-se a
justeza das reclamações e do abaixo-assinado de mais de 350 munícipes, em
defesa da manutenção da fonte, documento que não mereceu, sequer, uma simples
resposta da mesma entidade que, agora, propõe a trasladação do fontenário.
Estou de acordo com esta
proposta, lamentando os gastos efectuados e os desmandos praticados esperando,
sinceramente, que a fonte do nosso Rossio não seja mais mutilada do que aquilo
que já foi.
O reconhecimento, público, do
erro praticado e do crime de lesa memória cometido, leva-nos a pensar que
nestes meses que faltam para o término do mandato, o executivo municipal ainda
nos pode surpreender pela positiva, fazendo as obras e reparando as situações a
que foi fazendo “ouvidos de mercador” durante estes anos.
Já não será possível
“ressuscitar” a Árvore da Mentira, assassinada sem apelo nem agravo ou
revitalizar o Eucalipto do Rossio. Tampouco poderemos ver reconstruído o belo
jardim romântico de Nisa, desmantelado por caprichosa vontade de quem não tinha
(e não tem) afectos e memória.
Mas poderemos esperar uma
inversão na forma de analisar e decidir. Decidir com o povo e pelo bem comum.
Decidir e fazer, ouvindo e escutando, fazendo o que é necessário e urgente, de
interesse colectivo, e não o que é lucrativo, dá votos e fideliza clientelas.
Aplaudo a ideia de recolocação
da Fonte do Rossio - mesmo com outra polémica à vista -, e espero que a Câmara
cumpra aquilo que diversas vezes prometeu e nunca cumpriu: homenagear os nossos
emigrantes com um monumento alusivo à grande aventura nisense e portuguesa da
diáspora.
2. O Cine-Teatro de Nisa merece
ter vida e cumprir o seu papel, como equipamento de promoção da cultura, do
lazer, do entretenimento e do conhecimento.
Nessa função cultural, a
projecção de cinema – interrompida sem qualquer aviso ou explicação há mais de
dois anos – assume capital importância. Bem sei que, de outro lado, haverá
argumentos como “espectadores”, “custos”, “rentabilização”, “financiamento” e
outros. A cultura não tem, forçosamente, de dar lucro e de entrar no deve/haver
das contas do município como se de uma mercearia se tratasse.
Como fazer, então? Perguntem às
autarquias vizinhas como Vila Velha de Ródão ou Alter do Chão, municípios com muito
menos habitantes que o concelho de Nisa e onde há sessões regulares de cinema,
e definam uma estratégia que racionalize os custos.
Instituam, por exemplo – ofereço
a ideia, de “borla” – o “Cartão do Cinéfilo”, com descontos em numerário ou em
sessões de cinema, premiando a frequência a espectáculos. Formalizem uma lista
de preços consoante os escalões etários e diversifiquem a publicidade e
divulgação dos espectáculos.
Promovam concertos musicais,
espectáculos de teatro e de variedades, a preços módicos, mas visando estimular
e enraizar a fruição cultural como um hábito adquirido.
Manter o Cine-Teatro operacional
e a cumprir a sua função estratégica custa dinheiro, é certo, mas há gastos
muito mais elevados e sem que se vejam quaisquer benefícios para os munícipes.
E, não há nada mais triste do
que ver uma Casa de Espectáculos com história – e que custou tanto a recuperar –
ir definhando aos poucos, correndo o risco de se transformar num casarão
fantasma, sem o pulsar de vida, da cor e do movimento que merece.
Convenhamos, para obras “fantasmas
e fantasmagóricas” já temos que cheguem.
Não acham?
Mário Mendes