DESPORTO , FUTEBOLIZAÇÃO E ( DES ) IGUALDADE DE GÉNERO
1. Ainda está na memória recente de todos, a cobertura, absolutamente esquizofrénica (derivando facilmente para o alienante ), de todas as televisões do campeonato europeu de futebol de seleções disputado na Polónia e Ucrânia. Foi pena não ter sido aproveitado o entusiasmo suscitado nos espetadores e as elevadas audiências para (também) dar a conhecer melhor aspetos dos países anfitriões como as suas belezas naturais e monumentais, condições de vida e cultura dos respetivos povos. São oportunidades a não perder para, assim, ajudar na construção de uma outra perspetiva de união europeia, virada para um espaço de promoção, em pé de igualdade, de todos os paises membros e do ideal de Monet ou Delors .
2. Em absoluto contraste, êxitos não menos relevantes do desporto português, ao mais alto nível de competição, formam (e estão a ser) nestes dias, escandalosamente secundarizados (quase apagados) pela generalidade das televisões, jornais considerados de referência e (mais grave) pelos três diários desportivos que se publicam em Portugal. Um ciclista português ganha uma das mais importantes voltas europeias em bicicleta (o «tour suíço). Vários dias com a camisola amarela, heróico vencedor da prova, Rui Costa não teve o mínimo de realce que o seu sucesso merecia. Nem teve na etapa da consagração à chegada o abraço do licenciado de curta duração que só formalmente deixou de ser o secretário geral e faz as vezes de ministro... Em França ou Espanha, um sucesso patriótico (no bom sentido ) desta envergadura seria abertura de telejornais, ampla cobertura, tema com foto sugestiva a encher a primeira página do «l´equipe» ou da «marca ». Deu-se, nesses dias, preponderância a mais um brasileiro, argentino ou colombiano referenciado como futuro futebolista com destino a um dos três «grandes» com destino provável de empréstimo a um clube de escalão secundário...
1. Ainda está na memória recente de todos, a cobertura, absolutamente esquizofrénica (derivando facilmente para o alienante ), de todas as televisões do campeonato europeu de futebol de seleções disputado na Polónia e Ucrânia. Foi pena não ter sido aproveitado o entusiasmo suscitado nos espetadores e as elevadas audiências para (também) dar a conhecer melhor aspetos dos países anfitriões como as suas belezas naturais e monumentais, condições de vida e cultura dos respetivos povos. São oportunidades a não perder para, assim, ajudar na construção de uma outra perspetiva de união europeia, virada para um espaço de promoção, em pé de igualdade, de todos os paises membros e do ideal de Monet ou Delors .
2. Em absoluto contraste, êxitos não menos relevantes do desporto português, ao mais alto nível de competição, formam (e estão a ser) nestes dias, escandalosamente secundarizados (quase apagados) pela generalidade das televisões, jornais considerados de referência e (mais grave) pelos três diários desportivos que se publicam em Portugal. Um ciclista português ganha uma das mais importantes voltas europeias em bicicleta (o «tour suíço). Vários dias com a camisola amarela, heróico vencedor da prova, Rui Costa não teve o mínimo de realce que o seu sucesso merecia. Nem teve na etapa da consagração à chegada o abraço do licenciado de curta duração que só formalmente deixou de ser o secretário geral e faz as vezes de ministro... Em França ou Espanha, um sucesso patriótico (no bom sentido ) desta envergadura seria abertura de telejornais, ampla cobertura, tema com foto sugestiva a encher a primeira página do «l´equipe» ou da «marca ». Deu-se, nesses dias, preponderância a mais um brasileiro, argentino ou colombiano referenciado como futuro futebolista com destino a um dos três «grandes» com destino provável de empréstimo a um clube de escalão secundário...
3. O «tour de France» é apenas televisionado em canais que muito pouca gente vê, desprezando imagens absolutamente espetaculares em termos da natureza e património que é de toda a Europa, para não falar do heroísmo dos ciclistas em pedaladas de esforço notável, nomeadamente na alta montanha. Já nem sequer «a bola» envia enviados especiais, recuando dezenas de anos sobre o notável jornalismo protagonizado outrora por Carlos Miranda e Homero Serpa, com páginas de prosa que representaram (também ) pontos altos do culto da lingua pátria e (sempre que possível) introduzindo a perspetiva progressista no fenómeno que estavam a retratar...
4. A seleção femina de futebol de sub-19 vai disputar as meias finais do campeonato europeu. Curiosamente também com a Espanha... Quantos se chegam a aperceber deste percurso vitorioso destas abnegadas mulheres? Mesmo os jornais desportivos omitem escandalosamente ou, em autêntica caridade de pequena divulgação, oferecem a estas vitoriosas três ou quatro centimetros quadrados, sem uma fotografia ao menos...
5. A condição esmagadora de futebolização do espetáculo desportivo em Portugal faz resvalar as coisas, com injusta menorização das outras modalidades, para a alienação e a violência daí resultante.
A masculinização é outra situação, a este nível, absolutamente intolerável. A expressão dada a este tipo de espetáculo conduz à ideologia da mulher como ser menor, sem condição física para estas coisas do uso do músculo.
Por curiosidade, contámos o número de mulheres presentes nas fotos que compõem a edição de um diário desportivo da nossa praça. Em mais de 100 fotos (não parece!), o feminino está presente nove vezes. E em mais de metade por razões nada desportivas, a reforçar a subalternidade e submissão. É Ronaldo com a namorada, a noiva de Iniesta com o vestido branco casadinha de fresco, Joana Pinto da Costa a caminho do altar pelo braço de Jorge Nuno. Está tudo dito...
6. Pegámos neste tema porque, nos dias que correm a política parece limitar-se à ação gestionária da coisa pública, nomeadamente à volta da sua condição financeira. Uma visão progressista deve agarrar (também ) em questões de valores nos vários quadrantes da vida e da condição humana...
JOSÉ MANUEL BASSO
FOTOS: Rui Costa (vencedor da Volta à Suíça); Dulce Félix (campeã europeia dos 10 mil metros); Patrícia Mamona (vice-campeão europeia do triplo salto).