Vítima de leucemia, morreu Manuel Diogo. Prestigiado entre os camaradas de trabalho na Portucel, teve sempre intervenção ativa nas lutas por conquistas sociais que, no período mais criador da revolução portuguesa, os trabalhadores daquela (então) grande empresa de natureza pública vieram a alcançar.
Juntamente com o (carinhoso) Diogo mais velho e o Jaquim Farrabrás foi, em Santana, particularmente em Arneiro, grande obreiro da acção inicial e implantação do Partido Comunista Português. Sem perspetivas de conquista de poder ou benesses (a altura era outra) carregou com muita incompreensão (mesmo familiar) e arriscou bastante, em momentos de regressão revolucionária, na sua fábrica.
Na sua casa e na garagem mesmo em frente (como na do Joaquim) se realizavam as reuniões do partido. Aí se guardavam, os cartazes, a cola , o balde e o pincel enquanto instrumentos de campanhas eleitorais verdadeiramente feitas de militância de quem, como o Manel, acreditava num projeto e lutava por um ideal.
Lutou com coerência e entusiasmo sem limites quando, já no período inicial do poder local democrático, para entrar no Arneiro era quase necessário «passaporte» e os comunistas eram tratados pelos caciques locais quase como se, ali, houvesse prorrogação da condição de clandestinidade.
Essa luta inicial foi indispensável para criar os alicerces que, anos depois, conduziram, também em Santana, a uma gestão popular na freguesia, com um largo período, onde os eleitos, com destaque para o Fernando Catarino, o Joaquim Maria e o João Silveira, escreveram páginas do que de melhor conhecemos no poder local da região e do país.
Foi com papel detacado, em espírito de grande humildade e abertura, do Manuel Diogo que esses camaradas chegaram à junta «retirados» do lado do «adversário».
Nesse momento de conquista do poder, localmente, nunca o Manel pretendeu postos importantes porque, acima de tudo, com inteligência, entendeu que havia formas mais eficazes de servir o povo e a freguesia.
JOSÉ MANUEL BASSO