17.3.10

OPINIÃO: O ARTESANATO DE NISA E A “VALQUÍRIA”

Foi apresentado no dia 6 de Março, um documentário, na RTP2, sobre a obra de arte denominada “Valquíria – O Enxoval”, que tem como tema principal a peça artística com 16 metros de comprimento construída pela artista plástica Joana Vasconcelos, com rendas, bordados e outros trabalhos de artesãs de Nisa.
O filme mostra a realidade nua e crua de como se destrói a memória de um povo, representado materialmente nas suas peças de artesanato, feitas com tanto carinho, pelas mãos sempre sábias, das artesãs nisenses. Penso que não era esta a ideia que a produção da película, desejava fazer passar, mas como uma imagem vale por mil palavras, e elas aí estão.
Joana Vasconcelos, até pode ser uma grande artista, e terá o seu valor como tal, mas daí a fazer uma obra de arte sobreposta noutra, isso não é nada, nem tão pouco arte, podemos pois chamar-lhe no mínimo destruição e atentado á cultura deste povo. Imaginem por breves minutos, que em vez de Joana Vasconcelos, pegar nas várias peças de artesanato nisense, pegava em vários quadros de pintores famosos e fazia uma enorme bola de trapos, que pensaríamos todos? E os críticos de arte que opinariam? E quem se daria ao trabalho de encomendar e financiar esta loucura? Pois bem, foi isto mesmo que foi feito em Nisa, de uma forma descarada e financiada com dinheiros públicos e encomendada pela própria autarquia.
A “Valquíria”, no meu entender representa: não o enxoval, mas a morte do artesanato de Nisa, uma morte com direito a documentário, como se tratasse de uma lápide, em que escrevemos as últimas e derradeiras palavras ao defunto.
Quanto ao custo da obra nem me vou pronunciar, mas posso-vos dizer que com oitenta mil euros, fazia-se uma campanha de divulgação do nosso artesanato, bem mais eficaz e junto de operadores turísticos com grande capacidade de decisão, para de uma forma mais directa promover esta terra, como “um produto único”, que é Nisa e as suas gentes – terra bordada de encantos.
Os recursos são sempre escassos, mas o artesanato de Nisa, terá que ser encarado como uma solução complementar, para o desenvolvimento sustentável desta terra, e como tal deverá ser abordado de forma clara, por quem de direito, quanto ao seu futuro. Sei que houve, em tempos, uma colaboração com a CENTA – Centro de Estudos de Novas Tendências Artísticas e a Escola Superior de Artes e Design de Caldas da Rainha, talvez seja esta uma das vias, para pensar o futuro do nosso artesanato, e com elas apresentar projectos inovadores e empreendedores nesta área, e todos ficariam certamente a ganhar.
José Leandro Lopes Semedo