2.3.10

NISA: Retratos Pequenos e Breves do Património Cultural e Natural (7)

Continuação da divulgação do original
“Retratos Pequenos e Breves do Património Cultural e Natural do Concelho de Nisa” – 7/17
José Dinis Murta, in Nisa Viva – Revista de Cultura e Desenvolvimento Local, n.º 17, Dezembro 2009, págs. 3/14.
Património urbanístico e arquitectónico
Parece que, recentemente, no geral, as questões urbanísticas e arquitectónicas entraram no bom caminho, porém não nos podemos esquecer de casos flagrantes que até são exemplos de caos, como seja o da Rua Júlio Basso e da Rua 25 de Abril (Estrada de Alpalhão), em Nisa, e a descaracterização das nossas aldeias das quais Monte Claro é um exemplo flagrante! Ou não é, e antes se pretende harmonizar/contrastar o tradicional e o contemporâneo?
O que pensar da nova capela em Vila Flor de linhas modernistas construída sobre as ruínas da antiga Matriz de S. Bartolomeu onde nem se fez prospecção arqueológica (ou fez-se?) num espaço onde se sepultaram, até cerca de meados do séc. XIX, quer no interior do templo quer no adro adjacente, segundo os costumes, os habitantes de Vila Flor e Albarrol?
Recuperam-se casas deitando abaixo todas as características anteriores, porém a outras, nos mesmos sítios, exige-se o respeito pelo tradicional. Porquê? E fazem-se obras sem o cumprimento de preceitos legais, designadamente na recente recuperação do castelo de Montalvão.
O centro histórico de Nisa como se encontra? Com projecto aprovado há anos aguarda com casas degradadas e em ruínas e sem condições de habitabilidade a sua implementação.
Queremos ou não o centro histórico? Mas como o queremos? Parado no tempo? Habitado e vivo? E como? E com quem?
Há casas bem recuperadas mas também as há que se recuperaram adulterando a traça tradicional. Fios, cabos eléctricos, antenas de TV pululam a olhos vistos
Casas caídas e abandonadas, casas que pertenceram (ou foram simplesmente habitadas) a figuras ilustres não têm uma pequena referência aos seus antigos locatários/inquilinos. A toponímia antiga desapareceu e a actual pouco ou nenhum significado tem localmente, uma Travessa, carregada de significado, passou a rua, Rua de Moçambique, e a Rua de Angola substituiu, no nome, a Rua do Fundo, que realmente é a do fundo da vila murada. Tinha um poço, que, apesar de tapado, deveria ter alguma indicação.
No topo das muralhas crescem árvores, sim árvores, além das ervas.
Existem outros centros urbanos, que, apesar de não estarem classificados de históricos, também carecem de ser olhados atentamente, leia-se recuperados.
Quanto ao património construído no site do Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana (IHRU) em http://www.monumentos.pt/Monumentos/forms/002_B.aspx poderá aceder ao inventário de alguns monumentos - arqueológicos de arquitectura funerária e outros de arquitectura recreativa, infra-estrutural, judicial, educativa, de comunicação e transportes, residencial, política e administrativa, jurisdicional, religiosa e militar e um conjunto urbano do concelho.
No site da Câmara - http://www.cm-nisa.pt/nisa_patrimonio.htm - mostra-se uma listagem de alguns dos imóveis/monumentos do concelho, por freguesia.
A Diocese de Portalegre e Castelo Branco vai proceder ao inventário do património religioso que tutela.
Conhece a igreja matriz de Nisa? Em cada uma das capelas há um inventário/descrição de alguns dos bens. Por que não se estende este tipo de informação, valorização, divulgação a outros templos?
Retomando o que foi dito atrás acerca dos bens perderem valor ou virem a ser valorizados, saiba que a comunidade religiosa de Nisa recuperou a abandonada e centenária ermida de S. Lourenço e esta está novamente aberta ao culto; por sua vez, a Associação Nisa Viva tem em curso uma campanha de angariação de fundos para reabilitar a também centenária ermida de Santo André (Nisa), que se encontra em ruínas.
Por outro lado, em meados do século passado a capela de S. Pedro, de características góticas, como a de Santo André, erguida extra-muros da vila de Nisa, foi derruída. Foi um erro, um atentado ao património, dirão, porém não se critique com os saberes de hoje os actos do passado, o conceito de património evoluiu. Quais foram as circunstâncias e as motivações que ditaram a destruição? Muitos outros templos desapareceram ou deixaram raros vestígios (Figura 4).

Figura 4 - Capela de S. Pedro (Nisa) - Fotografia de Temudo Barreto
A capela, derruída em meados do séc. XX, erguia-se no espaço hoje ocupado pelo Centro Infantil de Nossa Senhora da Graça da Santa Casa da Misericórdia de Nisa
Sinais de tragédias, mas também de religiosidade são as cruzes que se ergueram um pouco por todo o território concelhio à beira de caminhos, poços ou cursos de água (Figura 1, já apresentada anteriormente, mas que aqui se repete, para comodidade do leitor.)

Figura 1 - A Cruz do Negro
(depois dos calamitosos incêndios do Verão de 2007. Outubro de 2007)
Esta cruz com 2,5 m (aproximadamente) de altura foi furtada em Fevereiro de 2008
Algum património religioso está musealizado (ver adiante em património museológico).
(continua em 8/17) - José Dinis Murta