Trabalhar no campo é duro
Quem lá anda que o diga
Mal pagos e sem futuro
Quem tem dúvidas que o siga
A merenda aviada vai
P´ra quem trabalha à jorna
Leva pão, queijo e “pai”
E as azeitonas na corna
No Inverno o rigor
Do tempo enfurecido
Faz andar o trabalhador
Todo molhado e encolhido
De polainas e safões
Com uma saca pelas costas
Para ganhar alguns tostões
Remove cabeços e encostas
Hoje em dia é diferente
Anda tudo abandonado
Foi-se embora a sua gente
Há mato por todo o lado
Muitas vezes p´ra trabalhar
Bem se fartava de pedir
E nem às vezes a mendigar
Tinha trabalho para onde ir
A “boa vida” às vezes
Uma triste situação
Pois sem trabalhos os camponeses
Deixam de ganhar seu pão
Se não podiam trabalhar
Porque a chuva os impedia
Iam p´ra casa sem ganhar
O salário daquele dia
Apesar de tanta miséria
Como conseguiam fazer?
De uma vida triste e séria
Alegria para dar e vender.
Ó poder lá dos céus
Vê lá bem se me ouves
Há quem coma bons pitéus
E eu só feijão com couves
Murmura triste o camponês
Pela sua pouca sorte
Por tudo o que na vida fez
E ser pobre até à morte
Jogava ao “finto” nas tabernas
Afogando as mágoas no vinho
Indo-se abaixo das pernas
Quando se punha ao caminho
Por não haver distrações
Nem grande sabedoria ter
Passava nas tabernas os serões
E levava as noites a beber
É o fruto do desdém
E uma vida sem interesse
Sem ele não come ninguém
E tão pouco valor merece
Do campo foi para a cidade
De melhor vida à procura
Depois de ver a realidade
Era quase escravatura
Se não sabias, bem vês
Como era a dureza
Que o pai, camponês
Suportou tanta pobreza
Não me ponham conotações
Que eu a todos respeito
Da política não faço tenções
E outras doutrinas rejeito
Não há em mim outros sentidos
Que não sejam os de narrador
Dos factos acontecidos
Como faz o historiador
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