30.6.25

NISA: Conheça os nossos poetas (XXXV) - António dos Santos Sequeira


 3 - O TRABALHO E O TRABALHADOR 

Trabalhar no campo é duro

Quem lá anda que o diga

Mal pagos e sem futuro

Quem tem dúvidas que o siga

 

A merenda aviada vai

P´ra quem trabalha à jorna

Leva pão, queijo e “pai”

E as azeitonas na corna

 

No Inverno o rigor

Do tempo enfurecido

Faz andar o trabalhador

Todo molhado e encolhido

 

De polainas e safões

Com uma saca pelas costas

Para ganhar alguns tostões

Remove cabeços e encostas

 

Hoje em dia é diferente

Anda tudo abandonado

Foi-se embora a sua gente

Há mato por todo o lado

 

Muitas vezes p´ra trabalhar

Bem se fartava de pedir

E nem às vezes a mendigar

Tinha trabalho para onde ir

 

A “boa vida” às vezes

Uma triste situação

Pois sem trabalhos os camponeses

Deixam de ganhar seu pão

 

Se não podiam trabalhar

Porque a chuva os impedia

Iam p´ra casa sem ganhar

O salário daquele dia

 

Apesar de tanta miséria

Como conseguiam fazer?

De uma vida triste e séria

Alegria para dar e vender.

 

Ó poder lá dos céus

Vê lá bem se me ouves

Há quem coma bons pitéus

E eu só feijão com couves

 

Murmura triste o camponês

Pela sua pouca sorte

Por tudo o que na vida fez

E ser pobre até à morte

 

Jogava ao “finto” nas tabernas

Afogando as mágoas no vinho

Indo-se abaixo das pernas

Quando se punha ao caminho

 

Por não haver distrações

Nem grande sabedoria ter

Passava nas tabernas os serões

E levava as noites a beber

 

É o fruto do desdém

E uma vida sem interesse

Sem ele não come ninguém

E tão pouco valor merece

 

Do campo foi para a cidade

De melhor vida à procura

Depois de ver a realidade

Era quase escravatura

 

Se não sabias, bem vês

Como era a dureza

Que o pai, camponês

Suportou tanta pobreza

 

Não me ponham conotações

Que eu a todos respeito

Da política não faço tenções

E outras doutrinas rejeito

 

Não há em mim outros sentidos

Que não sejam os de narrador

Dos factos acontecidos

Como faz o historiador

***