20.11.24
OPINIÃO: Educação, esse prémio sem preço
Num primeiro olhar, os números podem ter um efeito desmobilizador. O prémio salarial médio de um trabalhador com o ensino superior tem vindo a cair progressivamente desde 1996. O mesmo acontece para quem tem o ensino secundário: o pico foi atingido em 2006 e está em quebra desde então. Ou seja, as diferenças salariais atribuíveis à educação tendem a pesar menos do que no passado.
Uma das explicações está na compressão salarial decorrente dos aumentos recentes no salário mínimo nacional. Lidos de forma superficial, os dados correm o risco de criar uma perceção incorreta de desvalorização do investimento (que o é, com esforço das famílias) na educação. Mas há várias boas notícias por trás destes indicadores, uma das quais é a massificação do ensino superior: em 30 anos, a proporção de trabalhadores licenciados multiplicou-se por dez.
Ter uma licenciatura continua a assegurar um prémio salarial médio de 40% e se olharmos para o mestrado a tendência acelera. É inequívoca a prioridade que o país, com atrasos estruturais devido a décadas de um regime que condenou a maioria da população à ignorância, deve dar à educação. O alargamento do pré-escolar é uma batalha imediata, mas no futuro haverá desafios crescentes como a formação ao longo da vida e a capacidade de redirecionar trabalhadores confrontados com mudanças mais rápidas no mercado e com uma perspetiva crescente de mobilidade.
Como bem têm demonstrado algumas fragilidades da escola pública e os desafios de inovação com que as universidades se confrontam a todo o momento, a educação é uma revolução que nunca pode ser dada por concluída. Além de decisiva para a economia, é muito mais do que um caminho para o emprego ou para o salário. É a chave para ler o mundo de forma crítica e para atuar nele. Esse é um prémio sem preço, que muda vidas e agita sociedades.
• Inês Cardoso – Jornal de Notícias - 20 novembro, 2024