6.10.24

OPINIÃO: O novo cerco do Porto

A mobilidade na Área Metropolitana do Porto (AMP) é hoje o maior e mais complexo desafio de uma região onde circula mais de um milhão de pessoas e a quem não são dadas alternativas suficientes ao uso do automóvel. O debate não é novo, mas o estrangulamento a que tem sido sujeito o Porto tem-se agravado de forma considerável. Dizer que a VCI é o mal de todos os pecados é redutor. Não estou certo que a simples retirada dos camiões para vias alternativas sem portagens fosse suficiente para aliviar a pressão diária exercida sobre a cidade, na medida em que uma parte considerável do espaço público se transformou também num estaleiro e, sobretudo, porque os grandes fluxos de pessoas acontecem sempre à mesma hora. Acresce que não podemos descurar o facto de haver carros a mais nas estradas (mais de 70% da população da AMP usa o automóvel entre a casa e o trabalho) e de toda a estratégia de mobilidade estar centrada na ideia de fazer deslocar viaturas e não pessoas. Este está, por isso, longe de ser só um problema do Porto e dos seus gestores políticos. A cidade, como está projetada, não aguenta isto muito mais tempo. O impacto não é só ambiental. É económico, na saúde mental, no bem-estar. A estratégia deve, por isso, congregar todos os autarcas da região, por mais que o seu raio de ação executiva esteja limitado. Se estiverem à espera que o Governo resolva, bem podem fazê-lo deitados numa chaise- -longue confortável. Não tenho uma solução milagrosa, mas basta perceber o impacto que as medidas de apoio aos passes tiveram no crescimento dos transportes públicos (sobretudo junto dos jovens) para se ficar com a convicção de que o caminho só pode ser este. Pedro Ivo Carvalho – Jornal de Notícias -05 outubro, 2024