29.10.24
OPINIÃO: Comer gatos e cães
Qual é o país que merece um presidente que está convencido de que os imigrantes comem gatos e cães? Que diz alarvidades atrás de alarvidades? Os Estados Unidos. A sorte do Mundo é que, apesar de o presidente norte-americano ter o seu poder, o controlo e o escrutínio, tanto interno como externo, faz equilibrar os pratos na balança. Basta recordar o mandato do republicano entre 20 de janeiro de 2017 e 20 de janeiro de 2021. Os Estados Unidos não se desmoronaram. Pelo contrário, houve um despertar para o perigo das ideias extremistas de Direita. E quando perguntamos qual foi o seu legado, a resposta pronta é: uma série de disparates sem sentido, porque ninguém o leva a sério. Na verdade, o cão ladra e a caravana passa.
Kamala Harris ainda acredita que pode sair vitoriosa, mas, infelizmente, Donald Trump parece estar em boas condições de ganhar, algo que parecia inviável quando a vice-presidente substituiu Joe Biden a meio da corrida. Kamala Harris está a perder fôlego, segundo as sondagens, talvez porque tenta apelar aos moderados, aqueles que não estão inscritos ou não vão votar. Já Donald Trump volta-se para o cidadão americano profundo. Disse que, se ganhasse, queria ser “ditador” desde o primeiro dia, que os imigrantes são “vermes” que “envenenam o sangue” dos americanos e continua a debitar teorias da conspiração sobre fraudes maciças. Claro que Kamala Harris está a tentar aproveitar este discurso para atrair os republicanos que ficaram desiludidos com Trump e tenta apresentar-se como a candidata ao mesmo tempo à continuidade e à mudança, um equilíbrio difícil, principalmente quando o seu opositor faz promessas de colocar imediatamente dinheiro nos seus bolsos. A acontecer, é até sinistro que Trump ganhe pela segunda vez a uma mulher (em 2016, derrotou Hillary Clinton), quando já foi condenado por abuso sexual e outros escândalos da mesma índole. O que pensarão as mulheres norte-americanas que vão colocar a cruz em Trump?
• António José Gouveia – Jornal de Notícias - 29 outubro, 2024