9.10.24

Festival Terras sem Sombra em Odemira, com “Sons que Descem do Céu” e um olhar sobre o horizonte marítimo

Odemira acolhe a 12 de Outubro o concerto pela harpista austríaca Elizabeth Plank: “Sons que descem do céu: música para harpa a solo (séculos XIX/XXI)” Concerto é momento para a estreia mundial da peça Impressões Alpinas, escrita pela compositora austríaca Monika Stadler Acção patrimonial decorre sob o tema “A vila de Colos: os desafios da interioridade na sede de um antigo concelho manuelino” Acção de Salvaguarda da Biodiversidade propõe alargar o olhar sobre o horizonte marítimo: “Crónicas das aves e dos homens: da migração outonal das aves à cultura mirense dos homens” 03/10/2024 – O Alentejo que tece a união dos horizontes marítimos e terrestres é o palco para mais um fim-de-semana da 20.ª temporada do Festival Terras sem Sombra. Desta feita, a 12 e 13 de Outubro, o concelho de Odemira convida a desafiar os sentidos em diferentes dimensões do Humano e na forma como nos relacionamos com o mundo. Um programa que se constrói a vários tempos: da estreia mundial de uma peça para harpa, nas mãos de uma magistral intérprete austríaca, ao olhar atento sobre os desafios da interioridade e à observação de uma ancestral migração de aves, num cenário pejado de vestígios pré-históricos. Um fim-de-semana de actividades do TSS com o apoio do município local e da Embaixada da Áustria em Lisboa, com o selo mecenático da Fundação “La Caixa”. Momento maior deste fim-de-semana é o concerto que, na noite de 12 de Outubro (21h00), decorre na igreja da Misericórdia, no coração da vila alentejana. O programa musical, subordinado ao tema “Sons que descem do céu: música para harpa a solo (séculos XIX/XXI)”, reserva a estreia mundial da peça escrita pela compositora austríaca Monika Stadler. Impressões Alpinas (2024), desafia-nos a uma incursão repleta de texturas, entretecidas em novas dimensões da música para harpa. A peça da criadora vienense encontra na noite de Odemira o talento de uma grande harpista compatriota. Nascida em 1991, em Viena, capital austríaca, Elizabeth Plank metamorfoseia a harpa num solo moderno e vibrante. A intérprete, reconhecida internacionalmente, dá a conhecer um repertório que atravessa os séculos e explora obras esquecidas, redefine contextos históricos e valoriza a música contemporânea. Odemira tem o privilégio, assim, de acolher uma artista, também professora de Harpa na Universidade de Música e Artes Performativas de Viena, que se destaca nos principais auditórios, teatros e festivais da Europa, Japão e América Latina. O serão de 12 de Outubro apresenta um repertório assente em nomes como os de Charles Nicholas Bochsa, Carolina Noguera ou Konstantia Gourzi, mestres incontestáveis da música para harpa. Os desafios da interioridade À dimensão musical, o TSS junta a habitual acção no Património. Desta feita, a actividade reservada para a tarde de sábado, 12 de Outubro (15h00), faz justiça à componente de descentralização do Festival e ao olhar atento que dispensa às idiossincrasias dos territórios. “A vila de Colos: os desafios da interioridade na sede de um antigo concelho manuelino”, com ponto de encontro na igreja matriz, propõe aos participantes a discussão em torno da desertificação dos lugares. Uma perspectiva atenta, guiada por António Martins Quaresma (historiador) e José António Falcão (historiador de Arte), que visa descobrir as memórias locais e mostrar como estas se manifestam na paisagem tangível e intangível, tanto no passado como no presente. A vila de Colos, sede de concelho extinto no século XIX, situa-se sobre uma elevação com amplas vistas para a bacia do rio Sado. O lugar “testemunha uma história antiga de oscilação do povoamento, consoante as vicissitudes da ocupação humana do território. Essa oscilação pode ser arqueologicamente verificada, nomeadamente, no alto cerro onde branqueja a ermida de Nossa Senhora das Neves”, sublinha António Martins Quaresma. Colos “está historicamente ligada ao reinado e à pessoa de D. Manuel I, que ali esteve, ainda enquanto duque, e lhe passou carta de fundação, em 1490, desanexando o seu território do de Sines, a que pertencia”, adianta o investigador, para acrescentar que “hoje, a freguesia sofre dos males da interioridade, como as restantes freguesias do concelho de Odemira, não tendo recuperado, em termos numéricos, a população que possuía em meados do século XX.” Frente ao mar, de olhos postos nos céus Odemira expressa a feição do seu território num diálogo permanente entre a Terra e o Mar. A actividade dedicada à Salvaguarda da Biodiversidade a decorrer no domingo, 13 de Outubro (9h30), lança um olhar aos horizontes oceânicos e aos céus odemirenses. O Cabo Sardão, promontório colossal, acolhe a actividade “Crónicas das aves e dos homens: da migração outonal das aves à cultura mirense dos homens”. Com ponto de encontro agendado para Cavaleiro (Ponta da Carranca/Ponta do Cão), esta acção tem como guia o reconhecido fotógrafo de Natureza, Dinis Cortes, grande conhecedor da região. É na voz do próprio que fica o convite para esta actividade: “as aves migratórias da Europa possuem corredores no regresso a África, em período outonal, que incluem a trajectória descendente ao longo da costa portuguesa até Sagres onde se reagrupam para rumar a Gibraltar/Tarifa. Aí, atravessam para o continente africano. No entanto, algumas delas saem directamente em Sagres e em todo o Algarve para o Mar e alcançam Marrocos e a Mauritânia. O Cabo Sardão é uma plataforma privilegiada para observar aves marinhas na sua deslocação para sul”. No decorrer da actividade, os participantes são convidados a adentrarem-se num segundo tema: a Cultura Mirense, centrada no denominado Mesolítico. “Na Costa Vicentina, entre Sines/Samouqueira/Porto Covo e Sagres, prolongando-se pelo Algarve até ao Burgau, surge uma cultura única, verdadeiramente "vicentina", denominada Cultura Mirense e caracterizada pela ocupação do território em praias ou patamares sobranceiros ao mar, prática intensiva de marisqueiro, aparecimento de concheiros estratificados por sucessivas fases de consumo intensivo de bivalves, presença de restos de estruturas de lareiras enquadradas por pedras nas áreas dos patamares. O ex-libris desta cultura é o denominado ‘machado mirense’, multifacetado e de formas e talhe variados, mas que teria funções de corte, escavação, desmembramento de reses e inclusive percussão”, conclui Dinis Cortes. O Festival Terras sem Sombra agenda novas actividades a 26 e 27 de Outubro no concelho de Sines. Toda a programação da presente temporada pode ser consultada no site do Festival Terras sem Sombra.