30.7.23

NISA: Poetas da nossa terra - As Sortes

Síntese
Em 1971, chegou o meu dia de “sortes”: uma inspecção médica para decidir a incorporação nas forças armadas e, posterior, mobilização para a Guerra Colonial. Apesar de todos os receios, era um dia de festa. Todos os rapazes, que completavam 20 anos nesse ano, percorriam as ruas da aldeia, abraçados e a cantar ao som duma concertina. Para manter os ânimos íamos bebendo copinhos de vinho, em cada taberna: era uma tradição que se perdia nos confins do tempo. Inspirado por: TRIO MUSICAL VICTOR COSTA – Cantar na Adega.
CENAS DA ALDEIA – O DIA DAS SORTES
Música : Cantar na Adega – Trio Musical Vitor Costa

1- Rua acima, rua abaixo,
Pega o copo e bota-abaixo,
Para molhar a garganta.
Rua abaixo, rua acima,
É o vinho que nos anima,
Que com água ninguém canta!

2- Aqui, ninguém desafina,
Ao toque da concertina,
Ao bater das castanholas.
E, quem não tem pandeireta,
Com os ferrinhos se ajeita
Ou na dança se consola.

3- Chegámos a cambalear,
Abraçados e a cantar,
À tasca da tchá Zabumba.
O “vento” estava forte;
Alguém que perdeu o norte
Caiu no chão, catrapumba!

4- Manjericos na lapela
E as moças à janela,
Para nos verem passar.
Os olhares e sorrisos
Faziam sinais precisos
Pedindo pra namorar.

5- Vamos cantar e bailar,
Enquanto o dia durar,
Mesmo que a voz nos doa.
As pernas já nos fraquejam;
Nossos corações arquejam,
Mas a alegria ressoa.
2
6- Somos a malta das sortes
Esperando passaportes
Para a guerra fraticida.
Não era nossa vontade
Servir a tanta maldade,
Mas não nos resta saída.

7- Pra manter a tradição
E ganhar animação,
Vamos bebendo uns copinhos.
Celebramos a amizade:
Viva a nossa irmandade,
À espera doutros caminhos!

(João R. – Junho/2023)