Mário Soares, eleito Presidente da República, em 1986, com o
apoio da Esquerda (e muitos sapos “engolidos”) inaugurou o ciclo do que viria a
chamar-se “Presidência Aberta”.
Estávamos em finais de 1988, não posso precisar o mês, e
numa das reuniões da Assembleia Distrital, órgão supra e inter-municipal e que
integrava representantes dos executivos e assembleias municipais do distrito,
teve lugar um curioso episódio.
A Assembleia reunia no salão nobre do Governo Civil e
minutos antes de a mesma se iniciar, os eleitos da APU – Aliança Povo Unido –
que detinha a presidência de três municípios (Nisa, Ponte de Sor e Avis)
combinaram, entre si, apresentar uma proposta no sentido de convidar o Dr.
Mário Soares, a realizar uma “Presidência Aberta” no distrito. Era uma proposta
simples, clara e objectiva, redigida em três tempos e que foi apresentada no
Período de Antes da Ordem do Dia.
O que parecia um documento, para ser aprovado em poucos
minutos, gerou uma profunda discussão entre os eleitos da APU e do PS, a força
maioritária na Assembleia e nos órgãos de poder local no distrito.
A argumentação dos socialistas era variada, desconcertante e
com laivos humorísticos. “Que a proposta era inoportuna”, diziam uns. “Que não
tinha sido objecto de discussão nos municípios”, contrapunham outros. E, assim
se prolongou no tempo, um tema quase inócuo. Percebeu-se, a dada altura, o
motivo de tanta celeuma e o desconforto dos socialistas. Queriam ter sido eles,
a apresentar a proposta e nunca esperariam que a mesma fosse formulada pela
APU. Os eleitos do PSD, justo é referi-lo, mantiveram-se impávidos e serenos,
afastados da querela, à espera que a proposta passasse da fase de discussão
para a votação. E, alguém de entre nós (eleitos da APU) com mais experiência da
política, resolveu de uma penada a discussão.
José Bruno (Vereador PS), Miranda Calha (Deputado PS), Mário
Mendes (Presidente da Assembleia Municipal – APU), Mário Soares (Presidente da
República) e José Manuel Basso( Presidente da Câmara Municipal – APU). A menina
da foto é a Margarida Oliveira.
“Meus amigos, já vimos que o vosso problema não é a proposta
em si, mas quem a apresenta. Pois bem, nós abdicamos de ser os únicos
proponentes e aceitamos que a Proposta para convidar o Senhor Presidente da
República a efectuar uma Presidência Aberta no Distrito de Portalegre, seja
apresentada por todos os eleitos nesta Assembleia.
Foi votada e aprovada por unanimidade. Passado algum tempo,
lá fomos a Belém, formular, em pessoa, o convite ao Presidente da República. Em
Março de 1989, Mário Soares visitou o distrito de Portalegre e esteve no
concelho de Nisa, no dia 17, um mês depois da visita de Cavaco Silva, então 1º
Ministro, para inauguração do Quartel dos Bombeiros.
Resta referir que a Câmara e Assembleia Municipal eram de
maioria APU, no caso do executivo, a primeira de maioria absoluta, resultante
de um processo eleitoral (1985) inédito no concelho e cuja história,
oportunamente, aqui publicaremos.
40 anos após as primeiras eleições (1976) para o Poder Local
Democrático há um acervo de histórias desconhecidas, algumas “saborosas”, que
os visitantes do Portal irão conhecer.
Mário Mendes