Motorista de
transportes colectivos desde 1998, era ele quem conduzia na manhã de dia 27 de
janeiro o autocarro da empresa espanhola Autocarros Rabazo, de la Codosera (Badajoz), que
se despistou no IC8, junto ao nó do Carvalhal, acidente do qual resultaram 11
vítimas mortais, todas de Portalegre e uma de Assumar (Monforte).
O nosso jornal foi
falar com Marco Semedo, para saber como se sente e o que pensa deste trágico
acidente alguém que viveu e vive o que ninguém quereria viver.
Alto Alentejo – Há
quanto anos é motorista de autocarros e onde trabalhou?
Marco Semedo – Sou
motorista desde 1998, trabalhei na Câmara de Castelo de Vide e presentemente na
firma Autocarros Rabazo em Espanha.
AA – Qual o tipo de
serviço que faz habitualmente?
MS – Faço transporte de
crianças para Albuquerque.
AA – Faz muitas
excursões?
MS – Sim, faço muitas,
praticamente todos os fins de semana.
AA – Alguma vez tinha
tido um acidente?
MS – Não, nunca.
AA - Como é que se
sente depois deste acidente?
MS - Estou a tentar
integrar o que vivi… não é fácil, não está a ser fácil… Estou tenso, não sei como hei-de
explicar... (pausa) estou magoado, estou sofrido e estou abatido com a
situação.
AA - Tem sentido apoio
de amigos e de conhecidos em geral?
MS – O pessoal amigo e
a população em geral apoiam-me. Perguntam-me como estou e dizem-me para ter
calma, para seguir em
frente. E a empresa também me apoia.
AA – Também ficou
ferido no acidente. O que lhe aconteceu e como está?
MS - Parti umas
costelas e fiz uma pequena perfuração de um pulmão. Estou a fazer fisioterapia
respiratória e estou de baixa. Vou agora à consulta do seguro do trabalho.
AA – E tem tido algum
apoio psicológico?
MS – Infelizmente não.
Desde o primeiro dia que não tive qualquer apoio. Não estou a dizer que deva ser
protegido, mas acho que devia ter algum apoio que não tive.
Já os meus familiares –
a minha esposa e a minha filha mais nova que também foram vítimas do acidente –
tiveram apoio enquanto estiveram internadas em Coimbra, depois não tiveram mais qualquer
apoio.
A Câmara de Marvão
mostrou vontade de apoiar mas não tem nenhum técnico dessa área, e até ao
momento não há resposta da Segurança Social.
AA – Mas sente que era
necessário esse apoio psicológico?
MS – Nós pensamos que
estamos bem mas se calhar até nem estamos, acho que deveríamos ter um apoio
especializado. Os amigos e a população dão-nos apoio e força, mas não sei se
será o suficiente.
AA – Toda a gente
refere que é um motorista cauteloso. Acha que neste acidente ia com velocidade
excessiva?
MS – Não, penso que ia
numa velocidade adequada para as condições que estavam nesse dia. Era um dia
chuvoso e havia algum nevoeiro e fui traído por uma situação da via em que a
sinalização era mínima; eu nem me apercebi da sinalização, apenas vi um sinal que
estava caído, que era “de perigo” mas em cima do acontecimento. Se o piso
estivesse em condições normais, penso que a velocidade era normal. Eu já passei
naquela estrada muita vez – agora desde Setembro ou Outubro que lá não passava
– e por isso penso que seguia a velocidade normal.
AA – A sinalização
estava devidamente visível?
MS – Não, não estava. E
foi já testemunhado por várias pessoas que aquilo não estava sinalizado em condições. Para o
grau de dificuldade que tinha aquela zona, estava muito mal sinalizado.
AA – Se bem que de
alguma forma já o tenha respondido, quanto a si qual é que terá sido a causa do
acidente?
MS – A causa do
acidente foi o mau estado do piso naquele local. O piso estava mais ou menos em
condições, mas havia um declive com uma certa profundidade, e se isso não é
fácil para um carro ligeiro como foi testemunhado por outras pessoas, muito
mais difícil é para um carro com uma dimensão daquelas em que o controlo se
perde mais facilmente.
AA – Se pudesse
transmitir uma mensagem às vítimas do acidente, tanto às que partiram com às
que estão feridas, às que sofreram e às que estão a sofrer, o que lhes diria?
MS – Que lamento muito,
muito sinceramente o acontecido. Às que partiram desejo que descansem em paz,
às famílias envio as minhas sinceras condolências, e aos restantes desejo
rápidas melhoras e completo restabelecimento.•
Entrevista ao "Alto Alentejo" - 27/2/2013