NISA - Terra de cor e Vida! - Diniz Fragoso
Subindo este nosso tapete multicolor de Portugal, o retalho do Alto Alentejo é a primeira pincelada de cor harmónica entre um tom indeciso e outro que fere...
Subindo este nosso tapete multicolor de Portugal, o retalho do Alto Alentejo é a primeira pincelada de cor harmónica entre um tom indeciso e outro que fere...
É o primeiro sorriso depois da expressão grave do Baixo Alentejo.
Depois do descampado e da solidão extensa da planície do sul, o solo toma as primeira ondulações, alcantilam-se as serras e a vegetação surge. Oásis!... O olhar já não se alonga pela imensidão da terra sem fim, embala-se, embala-se agora nas primeiras curvas das serras arborizadas e... nascem rosas!...
Marvão, no extremo do Alto Alentejo é a sua sentinela vigilante que descansa agora das lides de antanho.
Ali, não obstante a altitude e o agreste da sua penedia, não fazem as águias ninhos mas fizeram os homens doutros tempos um castelo que é um ninho de águias.
Seguida a prega do relevo depara-se-nos Castelo de Vide e, mais além, para os lados do Tejo, onde a ondulação do solo abranda antes das ondas alteradas dos primeiros contrafortes da Beira, estende-se uma povoação alegre de cor apenas recortando no céu uma silhueta de torres.
É Nisa – a “Corte das Areias” – de curiosa tradição histórica que lhe vem desde D. Diniz e cuja biografia se encontra explanada por Mota e Moura no seu livro “Memória histórica da notável vila de Nisa” e por Laranjo Coelho no livro “As ordens de cavalaria no Alto Alentejo”. Para estes guias encaminho o leitor visto que nestas curtas linhas nada mais faço que lembrar uma terra simpática e curiosa.
E de facto a “Corte das Areias” é, para aquele que não sofra de anestesia estética, um feixe de boas impressões. Dá-lhe carácter a sua Porta da Vila do século XIV, a “Fonte da Pipa” da Renascença, a Porta de Montalvão ainda do século XIV e o resto das suas muralhas.
Todos estes monumentos, belos de colorido e forma, satisfazem qualquer exigente arqueólogo ou pintor de arte.
Nisa tem sobretudo um carácter muito pessoal: nos seus usos e costumes, na hospitalidade bizarra, no protocolo de casamentos – único em Portugal – na fidalguia de acções e até em certo desafogo de valores pessoais que o ambiente meridional adormece um pouco...
Como digo, Nisa é sobretudo pessoal e a sua personalidade vinca-se bem, não só nos usos e costumes, mas também nas pequenas, mas curiosas indústrias nascentes: a da cerâmica que nos dá as cantarinhas pedradas tão apreciadas onde aparecem, e a das rendas e bordados em que algumas nisenses são artistas exímias.
O traje feminino é dos mais curiosos de Portugal, quer pela originalidade, colorido, forma e até riqueza, quer pela vivacidade do modelo que o veste pois, na generalidade, a mulher de Nisa tornou-se um belo e inconfundível tipo do Alentejo.
De crescente progresso, sobretudo com o desenvolvimento da Hidro Eléctrica do Alto Alentejo, esta vila desperta para a Vida e transforma-se acentuadamente, num confortável meio onde certa sociedade selecta lhe dá cor social intensa e simpática...
Diniz Fragoso in Album Alentejano - 1933
NOTA
NOTA
João Dinis Fragoso, nasceu em Nisa, na Herdade do Azinhal, em 1902. Foi um artista emérito, desenhador e cartonista, colaborador dos principais jornais portugueses como "O Século" e o "Diário de Notícias". São de sua autoria os dois belíssimos desenhos que aqui publicamos, ambos reproduzidos no "Álbum Alentejano", publicação regionalista dos anos 30 do século passado.