1. A comemoração da revolução dos cravos, em Nisa (como em tantos pontos do país) começou por chamar o povo às ruas, envolvê-lo de maneira activa, com centenas de pessoas a escutar discursos mais ou menos inflamados sobre o tema.
Há alguns anos, já «à porta fechada», transferiram a evocação da efeméride para o Cine-Teatro. Espaço onde cabiam à vontade todos os que quisessem associar-se ao acto.
2. Este ano a «solenidade» transferiu-se para o salão nobre dos Paços do Concelho.
Numa situação normal, o local escolhido seria insuficiente para acolher aqueles que, em geral, acorrem em número, apesar de tudo, relativamente elevado.
Porém, a jornada comprovou a «razoabilidade» da escolha do sítio de acolhimento dos assistentes à cerimónia. Cabiam todos na (pequena) sala com grande folga, deixando ainda muitas cadeiras vazias.
3. Objectivamente, concorrer, por acção ou omissão, para uma situação tão pobre do ponto de vista da participação da população, é ser «responsável» pelo acolhimento fácil da tese de que «o povo está farto do 25 de Abril e da política». Para natural satisfação de todos aqueles que não viram com agrado o derrube do fascismo e continuam a não morrer de amores pela democracia.
4. O programa adoptado era de uma pobreza franciscana, limitado à vila sede de concelho e sem manifestações populares dignas desse nome. Limitou-se aos aspectos estritamente «solenes». Não se venha «argumentar» que havia que «despachar» a coisa à pressa para seguir para a romaria. Municípios aqui bem perto, em situação de festa popular e religiosa, também com feriado municipal, optaram por realizar digna e tranquilamente uma parte das acções de evocação de Abril logo no sábado e até no domingo de Páscoa.
5. Razão que explica facilmente a ausência da população dos paços do concelho é a total ausência de divulgação do programa, colocado apenas na página electrónica do município, «escondendo» a iniciativa daqueles (a grande parte) que (ainda) não têm acesso ou hábitos de consulta da internet. Dava tristeza a quem sente o espírito de Abril passar por um café, uma pastelaria, um outro tipo de espaço onde se juntam os cidadãos no seu convívio e não ver nada alusivo a esta comemoração que tanto continua a significar para os democratas sem aspas. Um simples papel com um cravo impresso. Aliás nem nos «locais ditos do costume» estava afixado o que quer que fosse. Em placards que têm essa função. Até no vidro da porta principal da biblioteca nada se via que acompanhasse a venda (louvável iniciativa de fomento da leitura) de livros a preço de saldo.
6. Tudo se passou, afinal, como se tivesse tratado de um acontecimento «clandestino» e com um «conteúdo programático» que poderia ser subscrito por qualquer dos presidentes de câmara que entravam diariamente no local da «sessão solene» antes do 25 de Abril. . .
DINIS DE SÁ