14.4.11

ALPALHÃO - XIV Feira dos Enchidos: Uma aposta ganha

Alpalhão vestiu-se a rigor, na manhã de sábado, para receber a XIV mostra de gastronomia. Cerca de quarenta expositores, todos da região de Alpalhão e Nisa, mostraram o que bem se faz na arte dos enchidos, dos queijos, dos licores, dos bordados e da olaria. Ao som da banda filarmónica alpalhoense, as gentes da freguesia abriram o recinto, dando início a um dos dias mais aguardados por todos os habitantes da vila. A realizar-se pelo 14º ano consecutivo, o certame é, na opinião de João Moisés, presidente da Junta de Freguesia, “uma aposta ganha” e “bastante importante para a freguesia e para o concelho. A mostra desenvolve o comércio, as pessoas expõem os produtos, sejam eles de enchi-dos, queijos, licores ou bordados” o que significa que “é neste espaço que conseguem algum dinheiro para fazer face às despesas anuais”. Uma aposta nos expositores e produtores locais, “porque são os nossos produtos que queremos mostrar e divulgar”, por isso mesmo o autarca assume que coloca alguns obstáculos à entrada de expositores de fora do concelho. Uma excepção feita ao fornecedor dos pratos de barro, onde foram servidas as refeições do almoço da feira, “uma novidade que quisemos implementar, uma vez que temos refeições quentes e os pratos de plástico não funcionam muito bem”. A terminar, o autarca mostrou-se satisfeito porque mais uma vez as expectativas foram superadas, “todos os anos temos mais visitantes, e isso é o reconhecimento de todo um trabalho que vem sendo feito há anos”.

Uma vida a bordar Alpalhão

Alpalhão é uma das freguesias mais tradicionais, o uso do xaile, dos ouros, das saias bordadas, tudo isso faz desta vila uma das mais típicas do distrito de Portalegre. Os bordados desde sempre tiveram um lugar especial no coração destas gentes, das mãos das bordadeiras saiam e saem verdadeiras maravilhas e foi isso mesmo que, em vários stands, se viu durante o dia de sábado. Os xailes bordados, as colchas de renda, os aventais ou as toalhas de bandeira são alguns dos muitos exemplos expostos. Rita Ferreira nasceu e cresceu na arte dos bordados. Aos 15 anos iniciou aquela que viria a ser a sua principal profissão. Aproveitando o saber de quem ensinava e o seu gosto por aprender, levou-a a ser a bordadeira que hoje é. Reconhecida por todos, Rita Ferreira, hoje com 55 anos, trabalha numa arte que apesar de “continuar a ter alguma procura” já teve dias bem melhores. Faz de tudo um pouco, “em minha casa e por encomenda”, mas são os xailes que mais a fascinam. A tradição já vem de várias gerações. Histórias há muitas mas ao certo ninguém conhece o motivo que levou, pela primeira vez, as mulheres alpalhoenses a fazerem do xaile uma das principais peças dos seus trajes. “Desde sempre conheço os xailes em Alpalhão, não sei porque nasceu a tradição do uso, só sei que desde os tempos mais antigos que se usam”. Hoje a geração mais nova já não o usa no dia a dia, mas continua a haver quem o queira manter na memória e por isso “há sempre uma grande procura na altura do Carnaval” três semanas a fazer, “isto se não fizer mesmo mais nada”. Conhecidas por gostarem de falar, as mulheres de Alpalhão não se mostram tímidas quando se pede que nos falem das suas tradições. Ana Briostes, de 74 anos, e Maria José Graça, de 73 anos, falaram com desenvoltura do que foi o uso do xaile. “Os xailes eram, sobretudo usados, quando os maridos mor-riam. As mulheres colocavam xailes grandes na cabeça e traçavam-no ao peito. Fosse de inverno ou verão. Hoje, as pessoas mais antigas ainda os usam”. Uma tradição que faz de Alpalhão uma vila impar.

Manuela Lã Branca in "Fonte Nova"