Tinha 85 anos a senhora Maria da Cruz, figura popular, carismática do Pé da Serra, ou não estivesse à frente da principal taberna da aldeia, a "Taberna do Marzia" (alcunha do marido) durante mais de 50 anos. Meio século, quase uma eternidade no atendimento de clientes num estabelecimento que era também um centro de convívio, de conversa e, quantas vezes, de pequenos negócios locais que entre um copo e outro, ficavam apalavrados. Maria da Cruz era uma mulher valente, no nome e na actividade que desenvolvia, num esforço conjugado com os do marido, Francisco Carrilho de Almeida, proprietário do táxi da aldeia, actividades que lhes permitiram dar uma educação esmerada aos três filhos do casal: a Esmeralda, a Teresa e o Júlio. A "Taberna do Marzia", mais tarde com o pomposo nome de café, fechou há uns anos, mas a casa, a dois passos da igreja, permanece como um lugar mítico, com direito a figurar na memória histórica da aldeia.
A senhora Maria da Cruz deu vida, foi o principal rosto desse pequeno comércio, tradicional, que como tantos outros no país e não só no interior, têm fenecido. Fecham-se as casas, os comércios, despovoam-se as vilas e aldeias, mas as memórias desses lugares, continuarão vivas tal como os protagonistas que lhe mantiveram a "alma" e os laços de sociabilidade.
Gente que parte, recordações que ficam, exemplos que perduram.
Os da senhora Maria da Cruz e do Ti Xico Almeida serão, incontestavelmente, dois deles.