No início desta semana tivemos o “Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza (17/outubro)”. Portugal é o oitavo país da Europa com maior risco de pobreza ou exclusão social e o 13.º mais pobre da União Europeia. Esta situação tem se agravado e não temos perspetivas de a inverter. Mais de quatro milhões de portugueses seriam pobres sem a ajuda do Estado.
Podem dizer o que quiserem, mas continuamos com políticas de empobrecimento e Portugal é o país onde a pobreza cresceu mais, em muito devido à pandemia. Agora com os efeitos da guerra, espera-se um tsunami de pobreza, quando Portugal já é o segundo país com mais pessoas a viver em más condições materiais. A solução não pode estar na “caridadezinha”.
Enquanto alguns têm reformas milionárias, cerca de “72% dos pensionistas de velhice e 87% dos pensionistas de invalidez viviam com menos de 665 euros mensais, o valor do salário mínimo em 2021”, segundo a Pordata. Depois ainda temos de assistir a manobras enganosas por parte do Governo a deixar os pensionistas ainda mais pobres, quando afinal era possível melhorar a sua situação. Ao contrário, ainda são assaltados pelo governo de António Costa.
Segundo o Observatório do Emprego Jovem, 35,5% dos jovens licenciados, auferem o salário mínimo. Este dado preocupante soma-se à precariedade, às condições difíceis em que se confrontam para organizar as suas vidas, a começar pelo acesso à habitação, onde Portugal, também está mal colocado. E depois, os opinantes do sistema, queixam-se da falta de natalidade.
Temos um Orçamento de Estado com aprovação garantida, via opção do eleitorado que deu uma maioria absoluta ao PS. Como já se previa, quem trabalha e quem trabalhou, vai perder poder de compra, enquanto assistimos a borlas fiscais e contributivas para os grandes grupos económico-financeiros. Enganam-nos aqueles, em especial os liberais, que defendem esta fórmula para o crescimento da economia.
Bem sabemos das dificuldades do país e dos esforços que temos de fazer para remediar as políticas erradas, que sempre nos impuseram; mas não é aceitável que se distorça os números para justificar mais um roubo aos pensionistas, com aumentos abaixo da inflação. O discurso da troika continua, agora sob a batuta do PS que apostou na perda do poder de compra a favor do capitalismo.
Não passou despercebido o apoio de Marques Mendes ao governo PS, pois reconheceu as benesses em IRC às grandes empresas e este comentador do sistema que sempre defendeu, está pouco preocupado com a desvalorização de salários, enquanto a taxação dos lucros excessivos continua na gaveta onde o “socialismo” ficou engavetado há décadas.
Continua a política de cortes de salários e o engordar de mordomias e de fechar os olhos às fugas aos impostos. Acresce a incapacidade de controlar os abusos, a especulação, preços e lucros excessivos das energias, ou seja, a selvajaria do mercado. Já agora, porque se fala do mercado regulado, então, o melhor é dizer que o mercado livre é desregulado.
As pessoas assistem ao aumento dos preços dos bens alimentares e das energias; estão cada vez mais endividadas e a pagarem mais devido à subida dos juros. E enquanto as pessoas sentem mais dificuldades para comprar alimentos, as margens de lucro das maiores companhias de distribuição aumentam de forma inadmissível, fruto da especulação.
O PS bem pode argumentar que é obrigado a seguir as políticas de direita da União Europeia, mas não é sério, quando no próprio Parlamento Europeu se junta ao PSD e CDS para chumbar propostas que respondem à crise energética, que impõem condições às grandes empresas que recebam apoios públicos. Não é difícil adivinhar que se o IL e o Chega, tivessem eurodeputados, estes também alinhariam com o PS, PSD e CDS contra o interesse das populações.
Perante uma instabilidade que é mundial, os franceses já estão a agitar a sua indignação contra o aumento do custo de vida e a falta de atenção para com as alterações climáticas. Exigem o salário mínimo de 1600€, políticas efetivas de defesa do ambiente e a reposição do imposto sobre as grandes fortunas que a extrema-direita de Marine Le Pen ajudou a chumbar.Assim sendo é importante fazermos escolhas certas e optar por quem defende as pessoas e o planeta e não escolher quem comprovadamente defende os interesses do lucro e da exploração. Estamos perante uma crise mundial a vários níveis e não se avistam soluções, mas a maior crise é a passividade dos cidadãos que apenas olham para o umbigo.
Paulo Cardoso - in Programa "Desabafos"- Rádio Portalegre - 21/10/2022